1Coríntios 1.10-17
Série expositiva em 1Coríntios • Sermon • Submitted
0 ratings
· 12 viewsO autor exorta seu público a buscar a unidade da igreja, expondo a necessidade de que desejem essa comunhão, abrindo mão do orgulho e partidarismo, que afrontam a glória da Cruz de Cristo.
Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Ao longo das seções anteriores, o apóstolo Paulo elaborou as impressões iniciais quanto ao estado da igreja, apresentando parte do argumento que embasará suas exortações. A saudação (vs. 1-3) indicou o foco central do autor em fortalecer a unidade da igreja, tratando também dos problemas existentes com relação a santidade esperada do corpo de Cristo, que deveria inclusive ser entendida com a base da unidade da comunidade cristã.
Em face disso, a ação de graças (vs. 4-9), embora não enfraqueça as primeiras considerações, foi cuidadosamente estruturada a fim de servir como ponto de partida perspectivo que prepararia o coração dos ouvintes/leitores da carta, para receber as diretrizes por vir, o que é iniciado na presente seção.
A partir desse ponto, o autor adentra ao corpo da carta propriamente dito, o que resulta no início do trabalho argumentativo/pastoral empreendido por Paulo. O conteúdo das seções, especialmente neste capítulo 1 (e início do 2), é seccionado por um apelo direto à igreja: "Rogo-vos, irmãos..." (v. 10); "Irmãos, reparai, pois na vossa vocação..." (v. 26); "Eu, irmãos, quando fui ter convosco..." (cf. 2.1). Contudo, entre os versos 10 a 18 é percebido uma subdivisão, em que primeiro Paulo interage com o problema da divisão facciosa dentro da comunidade (vs. 10-17), para em seguida, atacar a razão para essa divisão (vs. 18-31).
Obedecendo essa estruturação, na presente análise nos concentraremos na primeira parte do início das tratativas do apóstolo com a igreja, percebendo que o ponto central da passagem consiste na exortação à unidade.
Elucidação
A exortação do apóstolo apresenta num primeiro momento, dois aspectos básicos que reforçam o princípio da unidade a ser construída e fortalecida na igreja: o primeiro deles é o aspecto pastoral com o qual a igreja é tratada, evidenciado através do desejo do ministro.
A expressão inicial "rogo-vos" (gr. "Παρακαλῶ") dá inicio à uma cadeia verbal em que os termos principiológicos são estruturados na voz subjuntiva ("[...] que faleis a mesma coisa"; [...] sejais inteiramente unidos..."), expressando que aquele conjunto de orientações provém do forte desejo de Paulo de que fato a unidade seja estabelecida naquela comunidade, ao ponto de que "faleis todos a mesma coisa". Usando as ações de graças como contexto prévio a esta seção, nota-se que os pontos expostos pelo apóstolo de fato centralizam a importância de que os cristãos corintios percebam a necessidade de estarem verdadeiramente comprometidos com a comunhão verdadeira e legítima do corpo de Cristo, sendo este inclusive o objetivo que deve guiá-los no trabalho a empreender na igreja.
Uma mentalidade comunitária é o alvo que o apóstolo deseja atingir, fomentando-a no coração de cada crente daquela igreja, como ele mesmo aponta na sequência: "[...] que não haja entre vós divisões; antes sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer" (vs. 10b-11). O esforço do autor é demonstra que sem que haja um comprometimento genuíno, isto é, vindo de fato do íntimo de cada crente, as exortações de nada valerão. Embora o apóstolo tenha iniciado sua carta abordando a santidade como uma das bases para a unidade da igreja, outro pilar fundamental destacado nesse propósito é o fato de que todos desejem esse mesmo ideal.
Se os desejos dos cristãos em corinto forem díspares com relação à própria igreja, não haverá como a comunidade ser fortalecida, e como exemplo disso, Paulo extrai e expõe a situação atual da própria igreja, publicando a denúncia que recebera, o que configura o segundo aspecto argumentativo presente na seção:
Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós.
O desejo de Paulo e a realidade da igreja estão em lados completamente opostos. Embora tenha iniciado com uma apelação, o apóstolo resolve fundamentar sua fala com a demonstração de que eles têm agido de maneira contrária a esse princípio tão caro a igreja. Em Corinto, os crentes agiam de maneira facciosa, com objetivos errados, motivados por razões ímpias (como será exposto na seção seguinte, a partir do versículo 18).
Alguns servos da casa de Cloe e membros daquela igreja, foram instruídos a relatar ao apóstolo que facções e grupos rivais estavam começando a se formar dentro da igreja. Como dito anteriormente, alguns outros homens, servos de Deus, haviam contribuído para radicação da igreja na cidade de Corinto além de Paulo. Nomes como Apolo e Cefas, passaram por aquela comunidade expondo o evangelho, a fim de que fossem nutridos na verdade. O problema é que esses nomes haviam sido transformados em campões numa batalha interna, que espelhava o orgulho de alguns grupos dentro da igreja, que os usavam como "referência".
"Preferências técnicas" como demonstrações de eloquência (talvez no caso de Apolo), conhecimento (em relação a Paulo) ou tradição (Cefas/Pedro) estavam sendo usadas para dividir o corpo de Cristo. Diante disso, o apóstolo questiona: "Acaso Cristo está dividido?" (v. 13). Aquilo deveria ser focado como sendo o vínculo que liga cada crente ao corpo como um todo estava sendo esquecido, e parâmetros mundanos eram elencados como critérios que demarcavam quem era o "representante" mais capaz para a igreja.
Paulo lembra aos coríntios que o vínculo da igreja é a cruz de Cristo (i.e. o evangelho): "Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, por ventura, batizados em nome de Paulo?". A obra da redenção - aquela que tira cada ser humano do ajuntamento de condenados sobre os quais pesa a ira divina, enxertando-os na família da fé - não havia sido executada nem por Paulo, nem por Apolo, tampouco por Cefas (embora o apóstolo nomeie apenas a si mesmo nesse trecho). Nenhum homem, exceto o Deus-Homem: Jesus Cristo, sustenta o poderoso vínculo que torna a igreja um corpo, e por isso o apóstolo continua sua fala, rebatendo o orgulho corintiano presente nas discussões rixosas naquela comunidade, alegando que não havia batizado ninguém, exceto Crispo, Gaio e a casa Estéfanas.
A discussão em torno do sacramento do batismo deve-se provavelmente ao fato de que como tal sacramento publica a entrada de alguém no corpo de Cristo, aqueles por meio de quem os crentes em Corinto foram batizados estavam sendo usados como objeto de vanglória também em relação a isso (e.g. Paulo, Apolo e Cefas), o que se aplica também ao último grupo, que embora arrogasse para si "pertencer a Cristo", pretendendo ser mais espiritual, estavam tão envolvido na orgulhosa contenda quanto os demais.
Outra vez o apóstolo condena essa atitude, afirmando que não havia batizando ninguém, a não ser os citados, e em seguida justifica:
Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo.
Naturalmente, isso não significa que Paulo tenha algo contra o sacramento, pois acabara de dizer que o havia ministrado à alguns poucos na cidade. A questão é que ele chama a atenção dos crentes daquela igreja para o centro da obra por ele realizada, e não era ser reconhecido como "tutor espiritual"de absolutamente ninguém, mas sim, que prevalecesse a glória do Senhor, demonstrado inclusive pelo fato de que a própria palavra da pregação do apóstolo não consistiu em sabedoria de palavra. Com isso ele exorta os crentes, corrigindo os dois pontos da ótica defeituosa que os levava à desunião: orgulho faccioso e vanglória.
Transição
O antídoto para tal problema na igreja é um e o mesmo: a cruz de Cristo. O foco de Paulo era que o Senhor Jesus recebesse a honra por todo trabalho executado por ele. Os cristãos em Corinto não haviam sido batizados em nome de Paulo, Apolo ou Cefas, e Cristo não era outro partido a quem podiam se filiar na disputa; eles haviam sido chamados à fé, à salvação em Cristo, e isso os tornava um corpo. Como o próprio apóstolo falará posteriormente: "Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor" (v. 31).
O orgulho da igreja é sermos todos partes do plano glorioso que exalta a Cristo, sendo ele mesmo, em sua obra, o que nos une, fortalecendo a comunhão através processo que nos aperfeiçoa, completando nossa salvação.
O apelo de Paulo à unidade, sintetiza esses princípio a partir de dois pontos que devem ser analisados por nós. Quais sejam:
Aplicações
1. Devemos estar totalmente comprometidos com a unidade da igreja.
Ao exortar os cristãos corintios com relação a corporatividade da igreja, Paulo não apenas torna claro o conceito de unidade, demonstrando as evidências que atestam que a obra salvadora estava sendo efetivada naquela igreja - o que fez nas ações de graças (vs. 4-9), e quando expõe que uma das bases dessa mesma unidade é a santificação, que separa os chamados para servirem à um mesmo Senhor (vs. 1-3), mas também ao enfatizar que é necessário que cada crente esteja pessoal e inteiramente envolvido com o desejo de que a igreja seja unida de fato.
Mente e coração precisam estar cônscios de que o esforço por uma igreja saudável passa pelo anseio de que vivamos essa benção. Não basta que saibamos que a igreja deve ser unida, precisamos forte e ardentemente desejar isso.
Foi por isso que Paulo começou essa seção apelando intensamente aos membros daquela igreja (como apela à nós hoje) (e.g. "Rogo-vos, irmãos..." (v.10)). Sem que nós de fato queiramos viver uma igreja unida e que comunga de um mesmo pensamento e objetivo (testificar do Evangelho (i.e. da cruz de Cristo)), qualquer conceito que tenhamos sobre unidade, comunhão, irmandade ou coisa do gênero será vazio e sem sentido, beirando a hipocrisia, pois o que pode unir o povo de Deus senão a obra da redenção executada por nosso Senhor Jesus Cristo?
2. Nossas expectativas ou conceitos pessoais para com a igreja, não podem superar a realidade que o próprio Cristo anela que seu corpo experimente, tornando nós essas peculiaridades, motivos para rixas e divisão em nosso meio.
Como veremos mais profundamente a partir da análise das seções posteriores, os cristãos em corinto estavam divindindo a igreja por causa de orgulho e vanglória baseadas em preferências pessoais com relação a igreja.
Conceitos extraídos de uma mentalidade contrária aos princípios cristãos estavam se enraizando no coração de muitos, que agora destacavam aspectos referentes ao trabalho desempenhado por Paulo, Apolo ou Cefas como espelhos que refletiam a glória da igreja.
Podemos ter opiniões quanto a como a igreja poderia melhorar em determinados aspectos; não há mau nenhum nisso. O problema ocorre quanto fazemos dessas opiniões o aferidor principal de saúde da igreja, criando um ídolo (tal como Apolo e Paulo foram feitos) que alimenta nosso orgulho, o que por sua vez provoca a sensação de que somos mais espirituais do que aqueles que não compartilham de nosso pensamento.
Não há um Cristo para cada crente; nosso Senhor é um e o mesmo. Por isso, nossa mentalidade deve ser norteada por um mesmo desejo (como falado anteriormente), direcionado pelos princípios elencados nas Escrituras com relação a como a igreja deve ser.
Como disse Calvino:
1 Coríntios Capítulo 1
Cristo só reina em nosso meio quando ele constitui os elos que nos ligam a ele numa unidade sacra e inviolável.
Orgulhos e partidarismos, principalmente os que são motivados pela vanglória de muitos em se acharem superiores por causa de suas preferências pessoais quanto a como a igreja, não deveriam ser vistos no meio do povo Deus, pois o único que deve se sobressair em nosso meio é nosso Salvador: aquele que nós chamou para ser um.
Conclusão
1Coríntios 1.10-17 é uma exortação à unidade, exortação que deve nos fazer desejar profundamente que a igreja do SENHOR esteja unidade, abrindo mão de quaisquer orgulhos ou preferências pessoais que não correspondam ao Evangelho, para que estejamos centrados na Cruz de Cristo.