O Escândalo da Graça
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Introdução
Introdução
É preciso ser bom para ser cristão ou é preciso ser cristão para ser bom?
Se eu preciso ser bom para ser cristão, porque nem toda pessoa boa é cristã. Da mesma forma, se para ser bom é preciso para ser cristão porque nem todo cristão é "bom"?
A vida de Jesus foi marcada por encontros, e um encontro em particular levanta essa questão para nós. Um encontro que ele teve que atraiu para Ele muita oposição. Essa oposição se tornou ainda maior porque além de se encontrar, Jesus teve comunhão e mais, o escolheu como um seguidor, um coperador, alguém para fazer parte do circulo mais próximo de pessoas que caminharia com ele por três anos.
Jesus não atraia apenas seguidores, mas também muita oposição. Essa oposição era progressiva e ia se intensificando durante os seus três anos de ministério. O relato do Evangelho de Marcos que leremos hoje foi marcante no início do seu ministério.
13 De novo, Jesus foi para junto do mar, e toda a multidão vinha ao encontro dele, e ele os ensinava. 14 Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e lhe disse:
— Siga-me!
Ele se levantou e o seguiu.
15 Achando-se Jesus à mesa, na casa de Levi, estavam junto com ele e com os seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram muitos e também o seguiam. 16 Os escribas dos fariseus, vendo Jesus comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele:
— Por que ele come e bebe com os publicanos e pecadores?
17 Tendo ouvido isto, Jesus lhes respondeu:
— Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; eu não vim chamar justos, e sim pecadores.
Como falei, Jesus atraia multidões, Ele foi o homem mais amável que já pisou no mundo. Sua personalidade, seu ensino e obras sempre atraiam pessoas. Onde ele estava, sempre havia esperança de alívio para os seus fardos, cura para as suas enfermidades e principalmente, perdão para os seus pecados.
Contudo, também, Jesus atraía oposição. Na mesma proporção que Jesus atraía multidões, Ele também atraía oposição. Neste episódio da vida de Jesus a oposição veio dos escribas dos fariseus, religiosos da época que se escandalizaram com quem Jesus teve comunhão. Sim a graça de Deus é escandaloza porque...
A graça alcança rejeitados
A graça alcança rejeitados
Talvez em um primeiro momento você olhe de forma crítica os fariseus que se enfureceram com a atitude de Jesus, porém eu gostaria de falar um pouco sobre quem eram os publicanos. Talvez se eu e você estivéssemos no lugar deles teríamos a mesma atitude.
Os publicanos eram judeus que se vendiam ao governo de Roma para coletar o imposto do seu próprio povo de forma injusta, o salario desses homens vinha da cobrança indevida do imposto ao povo seu próprio povo a serviço do governo de Roma. Observe, o publicano não era um funcionário a serviço da nação de Israel, mas alguém a serviço do governo opressor de Roma cobrando impostos abusivos do povo de Israel. Um publicano era considerado mais do que um corrupto, mas um traidor da pátria. Isso era tão grave que um judeu ao se tornar publicano, ele era expulso da Sinagoga, era execrado pela família a ponto de uma mulher judia poder se divorciar do seu marido caso virasse um publicano. Além do custo religioso e familiar, um publicano sofria um custo jurídico a ponto de não poder ser nem testemunha em um julgamento. Havia um custo social, um judeu necessitado não podia receber esmola de um publicano. Toda casa que um publicano tocasse era considerada imunda, a mentira que era um crime, se contada a um publicano ficava impune.
Então, vemos aqui uma graça escandaloza de um Deus soberano que salva quem Ele quer. Jesus chama um homem odiado e rejeitado sem dar nenhuma explicação ao povo e nem mesmo ao próprio Levi (Mateus). Então, o primeiro aspecto que eu gostaria de enfatizar é que sem o chamado divino, ninguém pode ser salvo, pois ninguém é capaz através da suas próprias forças, conhecimento ou obras consegue ir até Deus. Levi assim como todos os publicanos eram pessoas que haviam trocado sua reputação pelo lucro fácil, agora, após o chamado de Jesus, ele trocou o lucro fácil por uma nova vida. O chamado de Mateus deve nos encorajar a esperar, orar e trabalhar pela salvação daqueles que julgamos mais difíceis. O mesmo Jesus que chama, liberta, transforma e abre os corações. Jesus continua sendo o mesmo, Ele continua chamando pecadores a si!
Diante da escandaloza graça de Deus eu gostaria de fazer algumas aplicações:
Nascidos denovo não se escandalizam com a graça, mas se maravilham com ela. Quando eu não consigo me alegrar com a salvação ou a possibilidade de salvação daqueles que julgamos da "pior espécie" de pessoas, estamos agindo exataemente como aqueles religiosos que Jesus condenou.
Não cabe a nós definir a partir de critérios pessoais quem deve participar da mesa de Cristo, essa é para todos que Ele soberanamente chamar. Sabemos a partir de evidências de arrependimento, devoção e missão. Logo, uma evidência do novo nascimento é a comunhão com o corpo de Cristo, e isso vale para aqueles nascem de novo e precisam saber da importância da comunhão e também daqueles que já fazem parte da igreja o dever de acolher aqueles quem Deus chama.
O chamado de Jesus é gracioso, aqueles que são chamados compartilham desse chamado a outros. Conversão e missão andam juntos. Levi ou Mateus ofereceu um grande banquete a Jesus e muitos outros publicanos e pecadores (Lucas 6. 29,30). O coração de Mateus foi aberto de Jesus e ele abriu a casa, ele celebra a sua salvação criando oportunidades para que outros sejam salvos (hospitalidade como marca de um cristão).
Só pode ser salvo quem reconhece que está perdido
Só pode ser salvo quem reconhece que está perdido
Marcos escreve a seguinte afirmação de Jesus: "— Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; eu não vim chamar justos, e sim pecadores.".
Jesus não quis dizer aqui que só veio para os imperfeitos, mas que todos somos imperfeitos, e que o pior estágio da doença e da iniquidade é se achar justo. Achar que a partir dos seus próprios méritos, você é capaz de alcançar o favor de Deus. Os escribas e fariseus se consideravam sãos e bons aos olhos de Deus, mas na verdade, eles estavam tão necessitados de salvação quanto os publicanos. Não importa quão alta é a avaliação que temos de nós mesmos, somos totalmente carentes da graça de Deus. O que Jesus falou também não significa que o amor aos pecadores implica em uma falta de amor pelos "justos". A lógica de Jesus é: se ele salva soberanamente até as pessoas totalmente condenáveis, então há esperança e ajuda para todo tipo de pessoa.
Então eu gostaria de fazer algumas aplicações práticas a partir desta segunda realidade.
Em primeiro lugar, só os que se reconhecem doentes e pecadores têm consciência da necessidade da salvação. Só uma pessoa doente procura o médico. Só uma pessoa consciente do seu pecado busca a salvação. Não há fé sem arrependimento nem salvação sem conversão. Ninguém busca água sem sentir sede nem anseia pelo pão da vida sem fome. Uma pessoa, antes de vir a Cristo, precisa primeiro entender-se carente da graça de Deus. A salvação não é para aqueles que se consideram dignos, mas para os indignos que estão em situação desesperadora. Jesus veio para salvar os pecadores, perdidos, pobres, sofredores, famintos e sedentos. Jesus não veio ao mundo apenas para ser um legislador, um mestre ou rei. Ele veio para ser o nosso redentor.
Em segundo lugar, só os que se humilham podem ser salvos. A atitude dos escribas e fariseus era de soberba e orgulho. Eles se consideravam bons e justos. Eles olhavam com desdém os publicanos e pecadores e se vangloriavam diante de Deus por suas virtudes (Lc 18.11). Contudo, a única pessoa pela qual Jesus nada faz é aquela que se julga tão boa que não necessita de que ninguém a ajude. Essa pessoa levanta uma barreira entre ela e Jesus e assim fecha a porta do céu com suas próprias mãos. Virtudes não salvam, pior a pregação das virtudes sem a pregação do evangelho de Cristo não aproxima ninguém de Deus, mas afasta. Porque quem crê na prática das virtudes como um caminho para Deus está confiando na própria justiça e consequentemente negando a suficiência de Cristo como único caminho para o Pai. Essa era a realidade dos fariseus.
Warren Wiersbe diz que há três tipos de pacientes que Jesus não pode curar: 1) aqueles que não o conhecem; 2) aqueles que o conhecem, mas se recusam a confiar nele e 3) aqueles que não admitem que necessitam dele.
Mas essa reflexão a partir desse epsiódio de Jesus me leva a pensar uma realidade comum: -Nós temos a tendência em enxergar sempre no outro a figura do fariseu. por isso gostaria de caminhar para a conclusão lendo uma parábola contada por Jesus:
9 Jesus também contou esta parábola para alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:
10 — Dois homens foram ao templo para orar: um era fariseu e o outro era publicano. 11 O fariseu ficou em pé e orava de si para si mesmo, desta forma: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano. 12 Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo o que ganho.” 13 O publicano, estando em pé, longe, nem mesmo ousava levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: “Ó Deus, tem pena de mim, que sou pecador!” 14 Digo a vocês que este desceu justificado para a sua casa, e não aquele. Porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
Em primeiro lugar, Jesus nessa parábola do fariseu e do publicano não está condenando o não roubar, não adulterar, o jejuar, orar e dar o dízimo. Ele está mostrando a imagem de alguém que apesar de fazer isso tudo, não se vê como pecador. E em paralelo Ele mostra a figura de um publicano, traidor da pátria, corrupto, que apesar de todo seu histórico como alguém que fazia muitas coisas erradas, se arrepende verdadeiramente. Que a justificação é sempre mediante o arrependimento, na matemática de Deus ninguém consegue tirar 100% e a graça sempre precisa da Graça e da obra de Cristo para completar. Por mais ilibada que seja a sua conduta, você é pecador e carece dra graça de Deus, da mesma forma o pior dos pecadores também pode ser alcançado por essa mesma graça e salvo por ela.
Mas uma das formas que mais nos identificamos como os fariseus é fazendo exatamente como eles fizeram tanto no chamado de Levi, como Jesus descreve na parábola. Contabilizando o pecado do outro. Temos a tendência de encontrar deficiência nos outros onde sentimos que somos fortes. Mas Deus não vai justificar você dessa forma, se comparando com o outro, isso pode até fazer você se sentir melhor, mas não vai te aproximar de Deus. A única forma de você se aproximar de Deus é você se arrependendo dos seus pecados, reconhecendo a sua condição de pecador ao olhar para Cristo. Se o seu referencial é o outro, você sempre vai olhar para as deficiências alheias para se sentir bem, mas o referencial de Deus para nós é Cristo. A única forma de você ser aceito por Deus é Ele te ver em Cristo.
Conclusão
Conclusão
Salvação é para quem se entende como pecador, quem não se vê assim, está em um estado muito degradante diante de Deus. Os escribas e fariseus estavam nessa categoria. Talvez você pertença a um outro grupo, daqueles que se consideram que já pecaram demais e vivem sobrecarregados com o peso da culpa, e essa culpa é ainda mais alimentada pela crítica daqueles que talvez levem uma vida "melhor"que a sua mas nunca de fato se arrependeram de verdade, e isso faz você pensar que você é ruim de mais para ser crente. Mas quando olhamos para o evangelho, vemos que há oportunidade para todo tipo de pessoa.
Só os que se reconhecem pecadores alcançam salvação. Enquanto você se encantar com as suas próprias virtudes, você estará perdido, pelo contrário, em algum momento você vai olhar para outros cristãos que ainda estão em transformação, enfatizar suas deficiências e a tendência natural é se achar bom demais para fazer parte da igreja.
Precisamos ter fome e cede de Deus na mesma proporção que ansiamos comida quando estamos faminto, por água quando estamos com sede, por cura quando estamos gravemente doente. A fome de Deus é resultado da conciência de que somos pecadores e estamos perdidos.