A MISSÃO DE JESUS E A NOSSA– pp. 61-75
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Um morador de rua, um homem de meia-idade, senta sozinho em uma calçada ensolarada da cidade, cochilando com as costas apoiadas em uma cerca. Karim, um transeunte generoso, aproxima-se e estende, de pé, uma mão com dinheiro. O homem, então, acorda assustado, recua em autodefesa e agarra sua própria mochila de pertences. Conforme seus olhos vão-se ajustando à luz solar, ele vê a mão estendida e pega o dinheiro com gratidão. Eles começam a conversar, e o morador de rua se apresenta como Mark. Em uma inversão de papéis, Mark pega sua mochila suja, pede para Karim esperar por um instante, se levanta e sai com o dinheiro, deixando Karim sozinho na rua. Mark retorna momentos depois com um saco plástico e duas caixas de isopor. Mark usou a esmola para comprar duas quentinhas — uma para compartilhar. “Você poderia sentar e comer comigo por um momento?”, pede Mark. Karim surpreende-se, mas concorda e senta no concreto. “Fico feliz que esteja comigo”, diz o homem sem-teto, enquanto eles se sentam na calçada e abrem seus jantares ao mesmo tempo. “É solitário aqui. As pessoas passam e me ignoram. Não se importam se estou vivo ou morto. É muito bom poder sentar aqui com alguém.”
O vídeo retratando esse fato foi feito por uma câmera escondida e, sempre que o vejo no YouTube, meu coração se agita dentro de mim. Nunca se sabe qual é a real autenticidade de vídeos assim, mas esse, em particular, se espalhou espalhou de maneira viral e é fácil perceber o motivo. O vídeo expõe um lado da vida dos moradores de rua que, em geral, é ignorado e raramente registrado. Amizade é mais fundamental para a vida humana do que dinheiro, alimento ou abrigo. Por sermos feitos à imagem do Deus Trino, somos feitos para nos conectar com outros seres humanos por meio de uma comunhão verdadeira. E é por isso que a solidão dói como uma ferida aberta na pele.
J. H. van den Berg, um psiquiatra holandês que faleceu há pouco tempo, escreveu a famosa frase que diz que “a solidão é o núcleo da psiquiatria”. Ele também escreveu: “Se a solidão não existisse, poderíamos razoavelmente supor que as doenças psiquiátricas também não existiriam”.
O teólogo Peter Leithart adiciona a seguinte interpretação espiritual a essas citações impressionantes: “Os seres humanos se conectam com outros seres humanos em um nível tão básico que, quando nos desconectamos, nossas almas se estilhaçam em mil pedaços”.
Acho que consigo entender a ligação entre a solidão e a vida de um morador de rua. O mais difícil de entender é por que tanta solidão permeia a era digital hiperconectada.
Reinke, Tony. 12 maneiras como seu celular está transformando você (pp. 108-109). Editora Concílio. Edição do Kindle.
5. A MISSÃO DE JESUS E A NOSSA – Pág. 61-75
Diagnóstico #3: Você não pode servir ao próximo sem estabelecer as suas prioridades.
Pensamos na passagem de Marcos 1: 35-39 como um chamado à oração. E ela é. Mas também é uma declaração surpreendente de como o Filho do Homem se mantinha resolutamente em missão.
A sua encarnação, sua ressurreição, sua ascensão, sua exaltação – estas coisas são verdadeiro desafio às descrições. Mas eu me maravilho também por coisas mais comuns em sua vida, como o fato de que jamais falou uma palavra impensada, jamais desperdiçou um dia, jamais se afastou do plano de Deus.
Muitos de nós estamos tão familiarizados com os evangelhos que deixamos de ver o óbvio: JESUS ERA UM HOMEM EXTREMAMENTE ATAREFADO. Uma das palavras prediletas de Marcos era IMEDIATAMENTE. Jesus esteve tão terrivelmente ocupado, mas apenas com as coisas que tinha de fazer.
Em Marcos 1, Jesus começa seu ministério público ensinando na sinagoga, repreendendo um espírito imundo, cuidando da sogra de Simão, ficando acordado até tarde da noite, curando muitos enfermos com doenças variadas e expelindo muitos demônios. Marcos 1:34
Jesus tinha multidões correndo para ele o tempo todo. Tinha gente que o procurava, exigindo tempo e atenção. A impressão que temos dos Evangelhos é que quase todos os dias, durante três anos, ele estava pregando, curando e expelindo demônios. Em certa ocasião, ele estava tão ocupado que sua família pensou que estivesse louco. Marcos 3:20-21
Nosso Senhor não ficou ali sentado, ouvindo música de harpa o dia todo, enquanto os anjos lhe traziam bananas celestiais. Jesus foi tentado em todas as coisas como nós, mas sem pecar. Isso inclui a tentação de ser PECAMINOSAMENTE OCUPADO! Hebreus 4:15
Mas ele não caiu. Estava ocupado, mas jamais de forma frenética, ansiosa, irritável, orgulhosa, invejosa, e não foi distraído por coisas inferiores. Enquanto toda Cafarnaum aguardava seu toque de cura, ele saiu para um lugar ermo para orar. Jesus sabia a diferença entre o urgente e o importante. Entendia que todas as coisas boas que ele PODIA fazer não eram necessariamente as que ele DEVIA fazer.
5.1. A MISSÃO DE JESUS E A NOSSA MISSÃO
Não pense que Jesus não pode ser solidário com a sua correria ocupada, nos dias de hoje. Você tem contas a pagar? Jesus tinha leprosos para curar. Você tem uma criançada gritando por você? Demônios chamavam Jesus por nome. Você tem estresse em sua vida? Jesus ensinava grandes multidões por toda a Judeia e Galileia, ao lado de gente tentando tocá-lo, trapaceá-lo, matá-lo.
Ele teve razão para sobressair em uma centena de expectativas e milhares de grandes oportunidades. No entanto, permaneceu EM MISSÃO. Jesus conhecia suas prioridades e se manteve nelas.
Ele disse não a pessoas doentes – com males que ele poderia ter curado instantaneamente. Os discípulos não entendiam por que ele não atendia as necessidades urgentes bem na sua frente. É possível perceber um tom de reprovação nas suas vozes: “Todos te buscam.” Marcos 1:37
Noutras palavras: “O que você está fazendo? Tem um trabalho a fazer. Você é um sucesso bárbaro. As pessoas fazem fila esperando que você as ajude. Vamos lá! A multidão está ficando inquieta. Todo mundo está esperando por você.” E Jesus responde: “Vamos para outro lugar.” Isso é impressionante.
Enfim, Jesus era dirigido pelo ESPÍRITO. Era impulsionado pela missão que Deus lhe deu. Conhecia as suas prioridades e não permitia que as muitas tentações de uma vida ocupadíssima o desviassem de sua tarefa. Para Jesus, isso significava a pregação itinerante com tempo dedicado à oração, a caminho da cruz.
Quais são as suas prioridades? Para muitos de nós, nossa missão de fato é:
1. Cuidar da casa.
2. Cumprir o próximo prazo.
3. Manter as pessoas em minha vida relativamente felizes.
Sem pensar duas vezes sobre o propósito e a execução de alguma coisa, empurramos de lado as prioridades, às quais dizemos serem realmente prioritárias; coisas importantes como Deus, igreja, família e amigos.
Se Jesus teve de ser criterioso com as suas prioridades, nós também devemos ser. Temos de nos esforçar para descansar. Temos de ser disciplinados. O permanecermos em nossa missão tem de se tornar a nossa missão. E isso quer dizer que temos de enfrentar três verdades irredutíveis.
Verdade #1: TENHO DE ESTABELECER PRIORIDADES, PORQUE NÃO CONSIGO FAZER TUDO.
A pessoa que nunca estabelece prioridades é aquela que não acredita em sua própria finitude. Nós não esperamos conseguir comprar tudo que queremos, pois sabemos que existe um limite ao nosso dinheiro. Mas, de alguma maneira, vivemos como se o tempo não tivesse limites, quando na verdade nosso tempo é muito mais limitado do que nosso dinheiro.
O tempo poderá ser nosso recurso mais caro e precioso. E nós começamos a utilizá-lo bem somente quando reconhecemos que não existe um estoque infinito a ser usado. Queremos pensar que somos especiais, que conseguimos fazer duas tarefas (ou três ou quatro) ao mesmo tempo melhor do que as pessoas normais.
Estabelecer prioridades pode ser difícil. Manter-se nelas pode parecer impossível. Mas Jesus entende o desafio. Ele viveu sob as exigências implacáveis e as pressões incríveis. Ele também sabia que se quisesse realizar os propósitos de Deus, para ele, teria de renunciar a dez mil bons propósitos que outras pessoas tinham para a sua vida.
O Filho de Deus não poderia atender todas as necessidades a seu redor. Ele tinha de se afastar para orar. Tinha de comer. Tinha de dormir. Tinha de dizer não. Se Jesus teve de viver com as limitações humanas, nós seremos bem tolos se pensarmos que não precisamos.
Verdade #2: TENHO DE ESTABELECER PRIORIDADES, SE EU QUISER SERVIR AO PRÓXIMO MAIS EFETIVAMENTE.
Demorou um pouco para eu entender isso, mas hoje entendo. E creio nisso de todo coração. Não posso servir ao próximo com efetividade sem estabelecer prioridades. Se eu responder a cada e-mail, aparecer em toda reunião possível, e tomar cafezinho com toda pessoa que me pede “só uns minutinhos”, não terei tempo para adequadamente preparar o meu sermão.
Isso quer dizer que, além de estabelecer prioridades, tenho de estabelecer as minhas POSTERIORIDADES. Essa é a palavra de Drucker para as coisas que devem ser feitas no fim da nossa lista de afazeres. São as coisas que resolvemos não fazer por amor de fazer as coisas que devemos fazer. Não basta estabelecer alvos. Temos de ter metas quanto à quais tarefas e problemas não atenderemos de maneira nenhuma.
Uma razão pela qual nunca domesticamos a besta da ocupação desenfreada é que não estamos dispostos a eliminar nada. Remanejamos o horário e apertamos os breques, mas nada melhora porque não fizemos a poda.
Nós não estabelecemos aquilo que não faremos mais. Estabelecer prioridades é uma expressão de amor ao próximo e a Deus. Tempo “não dominado” tende a fluir em direção à nossa fraqueza, sendo engolido por gente dominadora e entregando-nos às exigências das emergências.
Sendo assim, a não ser que Deus queira que sirvamos apenas às pessoas mais barulhentas, intimidantes e carentes, temos de planejar com antecedência e de maneira sábia, para que possamos servir mais efetivamente. Observe que a palavra é EFETIVA, e não eficiente.
Deus não espera que todos os seus servos sejam eficientes. Mas se Jesus for exemplo, Deus espera que digamos não a muitas coisas boas, para que possamos ser livres para dizer sim para mais importantes obras que ele tem para nós.
Verdade #3: TENHO DE PERMITIR QUE OS OUTROS ESTABELEÇAM SUAS PRÓPRIAS PRIORIDADES.
Como a maioria dos outros problemas da vida cristã, o combate à ocupação exagerada é um projeto para a comunidade. Não basta que nós mesmos estabeleçamos as prioridades, se não respeitarmos o fato de que outros também terão de fazê-lo.
Aqui podemos ajudar-nos mútua e imensamente. Não espere que o convite para almoçar sempre dê certo. Não se irrite quando o seu e-mail perguntando “o que vc acha?” não recebe resposta.
Não se ofenda, se a sua necessidade não chegar ao começo da lista de coisas a serem feitas. Entenda que as pessoas muitas vezes dizem “estou ocupado” porque dizer “Tenho na vida muitas prioridades e no momento você não é uma delas” doeria demais.
Não pense que é grosseria, se algumas pessoas têm menos tempo disponível para você do que você tem para elas. E não conceda com relutância às pessoas o tempo que você está lutando tão desesperadamente para obter. A não ser que sejamos Deus, nenhum de nós merece ser prioridade de todo mundo o tempo todo.