1Coríntios 2.1-16

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O autor divino/humano expõe a grandeza da revelação do plano redentivo confiado à igreja, como evidência da incapacidade da sabedoria humana de fruir a salvação, reforçando com isso a percepção de unidade.

Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Avançando em suas exortações pastorais direcionadas à igreja, o apóstolo Paulo passa a traçar uma defesa de sua pregação, não no sentido de neutralizar um ataque contrário (o que fará noutro momento, e mais especificamente na segunda carta), mas com vistas à formular uma orientação que aponte que a pregação que gera benefícios para a igreja, é aquela proveniente da sabedoria de Deus, consistindo na demonstração do poder do Espírito em revelar o mistério da salvação, oculto àqueles que estribam-se em filosofias ou artifícios de linguagem.
Novamente, a humilhação da sabedoria humana no processo salvífico é o intento paulino, desenvolvido ao ponto em que deve ser vista vista como sendo um esforço incapaz de promover aquele conhecimento necessário para que alguém conheça a Deus de modo que dele possa usufruir a redenção. O homem que confia em suas filosofias ou sabedoria, demonstra que não foi habilitado pelo Espírito de Deus para conhecer o SENHOR.
Os poderosos desse mundo em sua confiança arrogante, estavam expondo sua inaptidão (tendo vista sua condição natural): estavam longe de alcançarem a graça salvadora, pois esta só pode ser discernida espiritualmente (cf. v. 14); um completo contraste com os eleitos, que receberam a mente de Cristo e então a podem discernir, o que aponta para a inescapável conclusão de que foram alvos do amor de Deus.
Notando essas considerações, a resolução sintética da presente passagem elucida o recebimento da pregação do Evangelho como demonstração da obra salvadora.
Elucidação
Segundo percebido anteriormente, a passagem inicia-se com outra referência direta, indicando a intenção de Paulo em apelar ao público a fim de trazê-lo a compreensão do raciocínio proposto: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco..." (v.1). A estratégia apostólica consiste na exibição de um contraste entre o que os coríntios viam como sendo evidência de uma retórica válida (segundo a filosofia grega), e o verdadeiro caráter de sua pregação: “[...] não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria" (v.1).
Embora essa justificativa seja mais propriamente fundamentada a partir do versículo 6, já no início dessa nova seção, Paulo adianta a conclusão do pensamento que fará ao longo do texto. A principal preocupação do apóstolo é a de que os membros da igreja de Corinto percebam que os resultados produzidos pelo ensino que ele havia repassado à igreja, não foram obtidos mediante artifícios humanos embasados em estratagemas argumentativos, mas unicamente no poder de Deus, demonstrado (gr. "ἀπόδειξις" trad. - comprovado, atestado) com vistas ao fortalecimento da fé (v.5)) que tinham em Deus.
A mesma rejeição que Deus manifestou por meio de seu plano salvífico, descartando qualquer contribuição humana no processo redentivo (cf. 1.20), Paulo também realiza, destacando que a pureza de sua pregação consistiu no objetivo único de "nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (v.2). O "saber" a que o apóstolo se refere, faz menção ao entendimento que os coríntios julgavam necessário (ou no mínimo conveniente) para o desenvolvimento da igreja. Deus, e Paulo (obedecendo este o padrão determinado), excluem de seu tratamento para com a igreja a sabedoria dos homens, inclusive rejeitando palavras agradáveis (cf. “persuasivas” (cf. v.4)), ressaltando como necessário para a saúde do povo de Deus, apenas o Evangelho (tema proposto na seção anterior).
Como dito, a partir do verso 6, o argumento é desenvolvido tendo em vista uma nova antítese estruturada pelo autor. Se nos parágrafos anteriores o contraste ocorreu entre a sabedoria dos homens e a sabedoria de Deus, tendo o SENHOR humilhado a primeira pela grandeza de seu poder, manifestando-o na contradição da simplicidade do Evangelho, o apóstolo agora expõe que a condição natural do homem é incapaz de o fazer discernir a ação divina, devido a ausência do Espírito em seu coração. O ponto divergente são os próprios homens, separados em dois grupos: os iluminados com a verdade mediante o poder do Espírito, que desvenda seus olhos espirituais a fim de que percebam a salvação, e os obscurecidos, que não tendo o Espírito, não conhecem a Deus, e portanto, não fruirão a redenção.
O argumento é ampliado a partir do uso de pequenos tópicos ao longo do texto, por exemplo, nos versículos 6 à 9, o ponto em destaque é a demonstração do princípio antitético mencionado, sob a ótica do "mistério outrora oculto".
O tema do enfraquecimento ou humilhação da sabedoria humana é trazido dos versos de 18 à 31 para o trecho de 6 à 9 deste capítulo 2, enfatizando a dinâmica salvadora sob às luzes de seu progresso revelacional. A ênfase agora recai sobre aquilo que Deus fez na eternidade, tendo determinado a ocultação de sua sabedoria aos poderosos deste século (cf. v. 6, 8).
Ao lermos o trecho, somos imediatamente remetidos à compreensão de que as expressões usadas na passagem para a sabedoria de Deus, refletem na verdade a convergência da obra salvadora em Cristo Jesus, e isso é defendido a partir do ponto de vista de que, se os homens, em sua condição natural, fiados em sua sabedoria, fossem habilitados a compreender o mistério da salvação, não teriam crucificado o "Senhor da glória". A implicação é de que a sabedoria oculta era na verdade, a demonstração da glória do Pai em seu Filho, Jesus Cristo, e todo o percurso que ele trilharia para completar a redenção.
Comprovando essa tese a partir da história redentiva, Paulo cita e interpreta outro texto do profeta Isaías: Isaías 64.4:
Isaías 64.4 RA
Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera.
A profecia registra o início das operações divinas em disciplinar seu povo por suas ofensas e pecados. Porém, as ações portentosas do SENHOR não foram percebidas dentro do plano salvífico por seus eleitos, até ele próprio ter descido (cf. Is 64.3) e operado visivelmente a ruína de Israel. Não obstante, o capítulo 65 conecta-se a essa profecia, remetendo a promessa de restauração feita também por Deus ao seu povo: eles não seriam destruídos totalmente (cf. Is 65.8), e por isso, o profeta adianta que a benção salvadora reservada para os que esperam a redenção, está além da capacidade humana de percepção (cf. Is 64.4b: “[…] desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu...”.
O homem natural não consegue notar os graciosos desdobramentos da ação redentiva, e por isso, é necessário que o SENHOR lhe desvende os olhos para que então a vislumbre. É exatamente esse processo de desvelamento que Paulo alude ao ter citado o texto de Isaías, construindo na subseção seguinte (vs. 10 à 16) o argumento de que, assim como o espírito do homem é o reservatório de sua identidade (e.g. “[…] qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito...” (v.11)), da mesma forma, Aquele que nos revelou o mistério da eternidade, isto é Cristo, o fez por ser Aquele que prescruta as profundezas de Deus (cf. v.10), e este Agente é o Espírito de Deus.
Conectado a essa revelação extraordinária, o Espírito Santo concede discernimento aos membros do Corpo de Cristo, para que os ensinamentos direcionados a igreja sejam por eles examinados, a fim de que se comprove que procedem dele mesmo.
Novamente, o procedimento de análise desses ensinos e palavras, só pode ser executado por aqueles que foram habilitados espiritualmente para os discernir (cf. “conferindo coisas espirituais com espirituais” v.13), e por essa razão, Paulo está atestando que a igreja foi edificada a partir de seu ensino, porque suas palavras não foram “ensinadas pela sabedoria humana, mas […] pelo Espírito” (v. 13), coisa que os homens naturais não podem acessar (cf. v.14-15) - afirmativa que faz o argumento retornar ao ponto inicial.
Contudo, o resultado único da exposição pura e simples do Evangelho, através do poder do Espírito Santo, é o desenvolvimento daquilo que o apóstolo chama de “a mente de Cristo” (v. 16), isto é, a igreja não raciocina segundo os padrões de sabedoria mundanos, através dos quais não podem alcançar a revelação do mistério da salvação (como já dito), mas apenas a partir do que lhes foi concedido e mostrado: a grandeza do poder de Deus na operação do chamamento dos eleitos para fazerem parte do povo redimido e amado desde a eternidade.
Transição
O ensinamento paulino direciona os coríntios à compreensão de que o processo de rejeição da sabedoria humana (processo esse que ele deseja ver iniciado naquela igreja) e apropriação da mensagem do Evangelho, exibe claramente a execução da obra salvadora no coração dos membros daquela igreja.
A unidade e saúde do povo de Deus estão baseadas na pureza e simplicidade do Evangelho que confronta e derrota a sabedoria humana (cf. 1.18-31), e a aquiescência à essa verdade é a prova de que tanto ao indivíduo quanto ao coletivo, fora concedida a mentalidade cristã que reconhece o plano salvífico que foi eclipsado no Senhor Jesus Cristo e sua obra.
Essa mesma compreensão deve ser recebida e experimentada pela igreja, a a partir da apreensão do seguinte princípio:
Aplicação
O evangelho - que não pode ser produzido ou recebido pelo homem natural - foi revelado a igreja em Cristo, o qual nela desenvolve a mentalidade cristã que nos torna capazes de viver como um povo, unido e saudável.
A complexidade da lógica paulina exposta neste texto, exibe mais profundamente o argumento anteriormente tecido, no qual foi visto a humilhação da sabedoria humana em detrimento da sabedoria divina, tendo esta arquitetado a redenção de maneira a receber toda a glória nesse processo, bem como clarifica a dinâmica de como tivemos acesso à essa graça.
Antes, Paulo demonstrou que a sabedoria dos homens era inútil para os fazer alcançar a salvação. Agora, ele explica porque ela é inútil: a sabedoria humana é não somente insuficiente, é incapaz, pois não pode ver a grandeza da revelação do mistério de Deus, preordenado na eternidade, o qual destacou Cristo para ser o centro da obra redentiva.
Não podemos perder de vista o objetivo do apóstolo, que é edificar o sentimento de comunhão e unidade da igreja. A contribuição de 1Coríntios 2 para esse intento, é demonstrar que o vínculo corporativo da igreja está ancorado numa compreensão sobre-humana (i.e. a sabedoria de Deus), portanto, todos os que fazem parte do corpo de Cristo foram trazidos à essa condição não por algum tipo de percepção mais acurada sobre a realidade espiritual à qual estavam submetidos, pois o “homem natural não aceita as coisas de Deus” (cf. v.14).
Fazemos parte da igreja porque o Espírito nos revelou o Senhor Jesus, não por meio de uma estratégia humana, mas ao ter usado seu poder para nos salvar e dar a mente de Cristo, e por isso, é vão o partidarismo ou desunião dentro da igreja, pois nada há nesse mundo que possa fazer com um de nós seja visto acima do outro, pois fomos redimidos pelo mesmo Espírito.
Conclusão
1Coríntios 2.1-16 complementa a seção anterior (1.18-31), afirmando a glória de Deus acima da sabedoria dos homens, e declarando à igreja que o vínculo do corpo de Cristo é a salvação, da qual temos conhecimento, não por que somos entendidos ou sábios segundo o mundo, mas graças ao Espírito Santo que nos revelou o mistério da eternidade: Jesus Cristo, nosso salvador e cabeça.
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