O coração de Jesus no Antigo Testamento - Ex 34.6-8
Jesus, quem ele é? • Sermon • Submitted
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INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Por acaso já passou pela sua cabeça a ideia o Deus do AT ser diferente do Deus do NT?
Marcião de Sinope - viveu entre 85 – 160 d.C, foi um dos mais proeminentes hereges durante o Cristianismo primitivo. A sua teologia chamada marcionismo propunha dois deuses distintos, um no Antigo Testamento e outro no Novo Testamento, foi denunciada pelos Pais da Igreja e ele foi excomungado.
Se fossemos escolher apenas uma passagem do Antigo Testamento para responder a essa questão, seria difícil evitar Êxodo 34. Deus está se revelando a Moisés, fazendo com que sua glória passe por ele, depois de colocá-lo na fenda da rocha (Êx 33.22). Nesse momento crítico, lemos:
O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: — O Senhor! O Senhor Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-se e grande em misericórdia e fidelidade;
que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a maldade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocente o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração!
E imediatamente Moisés curvou-se para a terra, adorou o Senhor
Tirando a própria encarnação, talvez esse seja o ponto alto da revelação divina em toda a Bíblia.
Uma forma objetiva de demonstrar isso é como esse texto é utilizado no decorrer do Antigo Testamento.
Vez após outra os profetas posteriores a Moises recorrem a esses dois versículos de Êxodo para afirmar quem Deus é.
Muitos outros textos também ecoam Êxodo 34, incluindo Números 14.18; Neemias 9.17; 13.22; Salmos 5.8; 69.14; 86.5,15; 103.8; 145.8; Isaías 63.7; Joel 2.13; Jonas 4.2; e Naum 1.3.
Êxodo 34.6-7 não é uma descrição pontual, um comentário periférico e passageiro.
Nesse texto, ascendemos ao próprio centro de quem Deus é.
Walter Brueggemann, estudioso do Antigo Testamento, diz que este versículo era para o povo de Israel, como "credo".
Qual seria então o "credo" de Israel sobre quem Deus é?
O que você pensa quando ouve a expressão "a glória de Deus"?
Você imagina o tamanho imenso do universo?
Uma voz trovejante e assustadora que vem das nuvens?
Em Êxodo 33, Moisés pede a Deus:
Então Moisés disse: — Peço que me mostres a tua glória.
Como Deus responde?
O Senhor respondeu: — Farei passar toda a minha bondade diante de você e lhe proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.
A glória de Deus não tem a ver com sua grandeza?
Bem, aparentemente não. Então, Deus continua a falar de como ele tem misericórdia e graça de ele quiser (33.19).
Após, ele quem diz a Moisés que ele o posicionará na fenda da rocha e que (novamente) a sua glória passaria (33.22).
Quando o Senhor passa, novamente a sua glória é definida em Ex 34.6-7 como sendo uma questão de sua misericórdia e graça:
O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: — O Senhor! O Senhor Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-se e grande em misericórdia e fidelidade;
Quando falamos da glória de Deus, estamos falando de quem Deus é, do que ele é, de seu resplendor singular, do que torna Deus, Deus.
E quando o próprio Deus define o que é a sua glória, ele nos surpreende maravilhosamente.
Os nossos instintos mais profundos esperam que ele troveje, rodando o martelo, executando seus juízos. Esperamos que a inclinação de seu coração seja retribuir nossos desvios e pecados.
Então, Êxodo 34 segura o nosso braço e nos faz parar.
A inclinação do coração de Deus é a misericórdia. A sua glória é a sua bondade.
Considere as palavras de Êxodo 34.6-7
Compassivo e bondoso.
Compassivo e bondoso.
Essas são as primeiras palavras que saem da boca de Deus após proclamar o seu nome ("o SENHOR" ou "Eu Sou").
As primeiras palavras. As únicas duas palavras que Jesus utiliza para descrever o seu coração são manso e humilde (Mt 11.29).
E as primeiras duas palavras que Deus utiliza para revelar seu coração, são compassivo e bondoso.
Deus não revela a sua glória como "SENHOR, SENHOR, exigente e preciso"; ou "SENHOR, SENHOR, tolerante e conivente"; ou "SENHOR, SENHOR, desapontado e frustrado".
A sua maior prioridade, seu mais profundo deleite e sua primeira reação é demonstrar o seu coração são misericórdia e compaixão.
Ele gentilmente se acomoda ao nosso nível, em vez de nos atropelar com o dele.
Tardio em irar-se
Tardio em irar-se
O termo hebraico diz literalmente "de narinas longas".
Imagine um touro raivoso, arrastando a pata na terra, respirando em alto som, com as narinas infladas. Isso seria "narinas curtas", por assim dizer.
Mas o Senhor tem narinas longas. Ele não tem o dedo no gatilho.
Diferentemente de nós, que muitas vezes somos represas emocionais prestes a romper, Deus demora a se irar.
É por isso que o Antigo Testamento fala que Deus é "provocado" à ira pelo seu povo dezenas de vezes (especialmente em Deuteronômio; 1-2Reis; e Jeremias).
Mas nem uma vez sequer nos é dito Deus é "provocado" ao amor ou à misericórdia.
A sua ira requer provocação; a sua misericórdia está engatilhada, prestes a transbordar.
Nossa tendência é pensar: a ira divina está engatilhada, prestes a explodir; a misericórdia divina demora a vir. É exatamente o contrário.
A misericórdia está prestes a explodir com o menor empurrãozinho.
Para seres humanos caídos, como aprendemos no Novo Testamento, acontece o contrário. Precisamos ser provocados a amar uns aos outros.
Cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor e na prática de boas obras.
Deus não precisa de provocação para amar, somente para se irar. Nós não precisamos de provocações para nos irar, somente para amar.
A Bíblia é uma longa tentativa de desconstruir a nossa visão natural de quem Deus realmente é.
Grande em misericórdia e fidelidade.
Grande em misericórdia e fidelidade.
Estes são termos pactuais. Há uma palavra hebraica por trás de "misericórdia".
É a palavra besed, que se refere ao compromisso especial de Deus com seu povo a quem ele alegremente se vinculou numa aliança pactual inquebrável.
A palavra fidelidade reforça esse ponto, ele nunca vai jogar as mãos para o alto, frustrado, mesmo com todas as razões que seu povo lhe der para tanto.
Ele se recusa a até mesmo cogitar a ideia de nos abandonar à nossa própria sorte, ou de afastar seu coração de nós, como fazemos com quem nos machuca.
Portanto, ele não simplesmente tem um compromisso pactual com seu povo, mas seu coração transborda em misericórdia.
Que guarda a misericórdia em mil gerações
Que guarda a misericórdia em mil gerações
Isso poderia ser igualmente traduzido como "que guarda a misericórdia por até mil gerações", como se afirma explicitamente em:
Portanto, saibam que o Senhor, seu Deus, é Deus; ele é o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos.
Isso não significa que a sua bondade acaba com a geração número 1001.
É a maneira de Deus de dizer:
Meu compromisso com vocês não tem data de validade. Vocês não conseguem se livrar da minha graça. Vocês não podem vencer a minha misericórdia. Vocês não podem fugir da minha bondade. Minha misericórdia, amor e graça são de vocês.
Visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração.
Visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração.
Esse fechamento, embora pareça difícil de engolir, é vital - e, quando você para pensar, é ainda mais reconfortante.
Sem isso, tudo que veio antes poderia ser entendido como mera leniência.
Só que Deus não é um molenga. Ele é a única pessoa perfeitamente justa do universo.
Não se enganem: de Deus não se zomba. Pois aquilo que a pessoa semear, isso também colherá.
O pecado e a culpa se transmitem de geração em geração. Vemos isso ao nosso redor o tempo todo neste mundo.
Porém, perceba o que Deus diz.
O seu amor pactual desce até mil gerações, mas ele castiga pecados geracionais apenas até a terceira ou quarta gerações.
Viu a diferença?
Os nossos pecados serão transmitidos para nossos filhos e netos. Todavia, a bondade de Deus será transmitida de um modo tão poderoso que engolirá todos os nossos pecados.
As suas misericórdias viajam até mil gerações, superando em muito a terceira ou quarta gerações.
Deus é assim. Segundo a sua própria palavra, este é o seu coração.
A assimetria de Êxodo 34.6-7 nos impressiona.
Misericórdia e amor ocupam a maior parte do espaço; a justiça retributiva é reconhecida, mas quase como um adendo.
John Owen formulou bem ao comentar esta passagem:
Quando Deus solenemente declarou plenamente a sua natureza pelo seu nome, para que o conhecêssemos e temêssemos, ele o fez enumerando aquelas propriedades que poderiam nos convencer de sua compaixão e longanimidade, mencionando apenas no fim a sua severidade, como aquilo que somente será exercido contra aqueles que desprezaram sua compaixão.
Os puritanos entendiam que, nesta revelação a Moisés Deus está abrindo o fundo de seu coração.
Na suprema revelação de Deus de todo o Antigo Testamento, o próprio Deus não sente a necessidade de equilibrar a comunicação da misericórdia com comunicações imediatas e proporcionais da sua ira.
Pelo contrário, ele se descreve, nas palavras de Richard Sibbes:
"revestido de todos os seus doces atributos".
Sibbes continua e diz:
"Se quisermos conhecer o nome de Deus e ver como ele tem prazer e deleite de se revelar a nós, vamos conhecê-lo pelos nomes que aqui proclama, mostrando que a glória do Senhor no evangelho brilha especialmente na sua misericórdia."
A partir de certo ângulo, a vida cristã é a longa jornada de deixar para trás, ano após ano, as nossas suposições naturais de quem Deus é, substituindo-as lentamente pela insistência do próprio Deus de quem ele é.
Isso é difícil e leva tempo.
Vários sermões e muitas aflições são necessárias para que creiamos que o coração de Deus é "misericordioso e compassivo, tardio em irar-se".
A Queda de Gênesis 3 não só nos trouxe condenação e exílio. E
la também escureceu nas nossas mentes a respeito de Deus, pensamentos que somente são cortados pela raíz após uma exposição prolongada ao evangelho no decorrer de vários anos.
Talvez a maior vitória do Diabo na sua vida hoje não seja o pecado em que você regularmente cai, mas os pensamentos obscuros sobre o coração de Deus, que fazem você buscar esse tipo de coisa e o deixam frio diante dele logo depois que acontece.
Contudo, é claro, a prova final de quem Deus é não se encontra em Êxodo, mas em Mateus, Marcos, Lucas e João e o restante do NT.
Em Êxodo 33-34, Moisés não pode ver a face de Deus e viver, porque isso o fulminaria.
E acrescentou: — Você não poderá ver a minha face, porque ninguém verá a minha face e viverá.
Mas e se um dia os seres humanos vissem a face de Deus sem serem fulminados?
O Apóstolo João diz:
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.
Era o que Moisés tinha pedido, mas não recebeu e nós podemos ver isso de forma plena em Jesus Cristo.
João não é o único evangelista que remete a Êxodo 33-34.
Considere o seguinte:
A revelação de Êxodo 34 vem após uma alimentação miraculosa (Maná) (Ex 16.1-36) e uma discussão do sábado (Ex 31.12-18); envolve um líder representante de Deus falando com Deus numa montanha (Ex 32.1, 15, 19, 34.2, 3, 29);
E termina com o povo de Deus aterrorizado, depois pacificado e, por fim, se aproximando e conversando com o líder representante de Deus quando ele desce a montanha (Ex 34.30-31);
Segue-se imediatamente a isso uma repetição do maravilhamento do povo quando o objeto de seu culto entra no meio do seu povo (Ex 34.9-10);
Seguindo-se a isso outro encontro entre o líder representante de Deus e Deus, resultando no brilho radiante no rosto do líder (Ex 34.29-33).
Cada um desses detalhes se repete em Marcos 6.45-52 e no seu contexto circundante, quando Jesus anda sobre as águas.
Logo a seguir, Jesus fez com que os seus discípulos entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado, para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão.
E, tendo-os despedido, ele subiu ao monte para orar.
Ao cair da tarde, o barco estava no meio do mar, e Jesus estava sozinho em terra.
De madrugada, vendo que os discípulos remavam com dificuldade, porque o vento lhes era contrário, Jesus foi até onde eles estavam, andando sobre o mar; e queria passar adiante deles.
Eles, porém, vendo-o andar sobre o mar, pensaram tratar-se de um fantasma e gritaram.
Pois todos viram Jesus e ficaram apavorados. Mas Jesus imediatamente falou com eles e disse: — Coragem! Sou eu. Não tenham medo!
Então subiu no barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram totalmente perplexos,
porque não haviam compreendido o milagre dos pães, pois o coração deles estava endurecido.
O Verso 48, diz que Jesus queria "passar adiante deles".
De madrugada, vendo que os discípulos remavam com dificuldade, porque o vento lhes era contrário, Jesus foi até onde eles estavam, andando sobre o mar; e queria passar adiante deles.
Por que Jesus queria passar adiante deles?
A razão é que Jesus não queria simplesmente "passar" os seus discípulos no mesmo sentido que um carro ultrapassa o outro no trânsito.
O seu passar é bem mais significativo quando visto no seu pano de fundo veterotestamentário.
O Senhor diz quatro vezes em Êxodo 33-34 que ele "passaria adiante de Moisés", sendo que a Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento) usa a mesma palavra (parechomai)) que Marcos.
O Senhor passou adiante de Moisés e revelou que a sua glória mais profunda seria vista totalmente na face de seu filho Jesus, por meio de sua misericórdia e graça.
Jesus veio para fazer em carne e osso o que Deus fez em vento, trovão e vozes naquele monte no Antigo Testamento.
Quando vemos o Senhor revelando o seu caráter mais genuíno a Moisés em Êxodo 34, estamos vendo a sombra que um dia cederia à totalidade de Deus em Jesus Cristo.
O Antigo testamento é como uma fotografia estática, com cores cinza embaçadas, mas em Jesus este Deus grande em misericórdia é visto como em um filme 3D, saltando na tela da história humana.
Lemos sobre o que há no mais fundo do coração de Deus em Êxodo 34.
Mas esse coração se mostra em Jesus Cristo, que atestou que este era o seu coração ao longo de toda a sua vida e obra, que tudo na escritura, apontava e aponta para Jesus.
Conclusão
Conclusão
Se quisermos ser uma igreja centrada em Cristo, não podemos perder de vista quem Jesus é em toda a Escritura.
Ele é a revelação perfeita e completa de Deus, o Deus que se mostra Compassivo e bondoso, tardio em irar-se, de Gênesis a Apocalipse.
Se quisermos construir uma igreja apaixonadas por Jesus, precisamos imediatamente nos lançar em seus pés a fim de nos derramarmos em amor por esse Deus Bendito, nosso Senhor Jesus Cristo.
E imediatamente Moisés curvou-se para a terra, adorou o Senhor
SDG