UMA CRUEL PUERIGARQUIA- pp. 77-89
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Ensina a criança no caminho em que deve andar,
e, ainda quando for velho, não se desviará dele.
ANTÔNIO RENATO GUSSO:
Provérbios não são promessas nem leis, mas observações da vida. Levando-se isto em consideração fica clara a interpretação (…). Ele não promete que alguém que foi ensinado em algum caminho, seja ele mal ou bom, quando criança, jamais se desviará deste caminho (forma de proceder), pois existem exceções à esta regra, como se confirma em alguns casos. Ele, simplesmente, está mostrando a regra geral, bem conhecida na atualidade: aquilo que nos ensinam na infância, normalmente, levamos para o restante das nossas vidas. Porém, pode haver desvios destes ensinos, para melhor ou para pior.
Quase não existe maneira dos pais removerem completamente a doida ocupação de suas vidas. Ter filhos não nos dá esse luxo. Mas com pouco de esforço – e muitos raios e trovões pela casa – a maioria de nós consegue estar um pouco menos ocupado e menos doido.
Vivemos em um estranho mundo novo. As crianças estão mais seguras do que qualquer outra época, mas a ansiedade dos pais subiu às alturas. Crianças têm mais opções e mais oportunidades, mas os pais têm mais PREOCUPAÇÕES E PERTURBAÇÕES maiores.
Temos colocado quantias antes inusitadas de energia, tempo e foco sobre nossos filhos. Contudo, assumimos que os fracassos deles com certeza serão por nossas falhas, por não fazermos o bastante. Vivemos em uma era quanto a felicidade e o sucesso futuro de nossos filhos estão acima de todas as outras preocupações.
Nenhum trabalho exige demais e nenhum sacrifício é grande demais se for para os nossos filhos. Uma pequena vida está na balança, e tudo depende de nós. Poderíamos chamar essa tendência de ser mãe e pai obcecado pelos filhos uma expressão de AMOR E DEDICAÇÃO RADICAL. Mas também poderíamos chamar de PUERIGARQUIA: DOMINIO INFANTIL.
6.1. O MITO DOS PAIS PERFEITOS.
6.1.1. Ser pai ou mãe é mais complicado hoje do que deveria ser. Antigamente, no que consigo observar, os pais cristãos basicamente tentavam alimentar os filhos, vesti-los, ensinar-lhes sobre Jesus, e mantê-los longe de explosivos.
6.1.2. Hoje em dia é tudo complicado. Existem tantas regras e expectativas. Ser pai ou mãe pode ser o último reduto do legalismo. Não apenas na igreja como também em nossa cultura. Vivemos em uma sociedade permissiva que nada é pecado se você for adulto. Mas para a meninada, fico ouvindo que não devem mais comer açúcar.
6.1.3. Como pais babás vivendo numa condição de babá, pensamos em nossos filhos como sendo surpreendentemente frágeis e totalmente moldáveis. Ambas as presunções são errôneas. Estragar os filhos é mais difícil do que imaginamos, e mais difícil ainda determinar o sucesso deles como gostaríamos.
6.1.4. Pais cristãos em especial, muitas vezes, operam sob um DETERMINISMO IMPLICITO. Temos medo de que alguns movimentos errados estragarão nossos filhos para sempre, e ao mesmo tempo presumimos que a combinação certa de proteção e instrução invariavelmente produzirá filhos piedosos.
6.2. UM DETERMINISMO DEBILITANTE.
6.2.1. Na pesquisa denominada “Pergunte aos filhos”, Ellen Galinsky entrevistou mais de mil crianças da terceira série fundamental até o terceiro colegial, e perguntou aos pais como eles achavam que seus filhos teriam respondido a pergunta “O que você mudaria quanto ao jeito que o trabalho de seus pais o afeta?”
6.2.2. O resultado foi impressionante. Era raro que os filhos desejassem mais tempo com seus pais, mas, para a surpresa dos pais, eles desejavam que seus pais estivessem MENOS CANSADOS E ESTRESSADOS.
6.2.3. Galinsky pediu que os filhos dessem nota a seus pais em uma dúzia de áreas diferentes. Em geral, os pais se saíram bem, e tanto mães quanto pais receberam nota por volta de B. A maior fraqueza, de acordo com as crianças, era na questão de GERENCIAR A IRA. Mais de quarenta por cento dos filhos deu às mães e aos pais notas C, D e F quanto ao controle do temperamento.
6.2.4. Nossos filhos, segundo Caplan, estão sofrendo do “estresse de segunda mão”. Ao tentar fazer tantas coisas por eles, na verdade estamos tornando nossos filhos menos felizes. Seria melhor que planejássemos menos passeios, tirássemos pequenas folgas sem os filhos, fizéssemos o possível para obter mais ajuda nos afazeres domésticos, e fizéssemos a saúde mental dos pais uma prioridade mais alta.
6.2.5. Nossos genes nunca explicarão plenamente as variações no comportamento humano. Como cristãos, sabemos que Deus nos criou à sua imagem, como agentes morais responsáveis. DNA não determina nosso destino eterno. Mas também os cuidados paternais não determinam nosso destino eterno. Caplan diz: “Você pode ter uma vida melhor e uma família maior, se admitir que o futuro de seus filhos não está em suas mãos.”
6.2.6. Temos de rejeitar nosso bem-intencionado, mas mal dirigido DETERMINISMO ESPIRITUAL. O fato é que, no final, não depende tudo de nós. A Bíblia está cheia de exemplos de gigantes espirituais que produziram filhos ignóbeis e parentes nobre gerados por progenitores poluídos.
6.2.7. Conquanto a sabedoria proverbial de Escritura – Provérbios 22:6 – e as promessas da aliança – Gênesis 17:7 – digam que bons pais cristãos e bons filhos cristãos normalmente andam juntos, temos de entender que:
· Deus é soberano – Romanos 9:6-18
· A salvação é um dom – Efésios 2:8-9
· E o vento do Espírito sopra onde quer – João 3:8
6.3. ACERTANDO ALGUMAS COISA.
6.3.1. Quero crescer como pai – em PACIÊNCIA, SABEDORIA E COERÊNCIA. Também sei que não posso mudar o coração dos meus filhos. Não posso tomar as decisões por eles. Sou responsável por meu próprio coração, e tenho de ser responsável por ensinar o caminho do Senhor aos meus filhos.
6.3.2. Mas não existe receita garantida – digamos, a mistura certa de cultos domésticos, Tolkien e nutrição – que infalivelmente produza os resultados desejados. Dez anos nessa coisa de ser pai, e eu só estou tentando ser fiel, e me arrependo por todas as vezes em que não sou.
6.3.3. Tenho cinco filhos e, além da graça do Senhor, estou me amparando no fato de que existem apenas algumas coisas inegociáveis na criação de filhos. Quando pensamos nisso, o que a Bíblia realmente fala sobre sermos pais?
6.3.4. Criação de filhos não é o tema principal da Escritura. Deus não provê muitas instruções específicas sobre a relação de pais e filhos, exceto que os pais têm de ensinar os filhos sobre:
· Deus – Deuteronômio 6:7 e Provérbios 1-9
· Discipliná-los – Provérbios 23:13 e Hebreus 12:7-11
· Ser grato por eles – Salmo 127:3-5
· Não lhes causar exasperação – Efésios 6:4
O preenchimento dos detalhes depende de cada família, cultura, sabedoria do Espírito e muitos erros e acertos.
6.3.5. Quero gastar tempo com meus filhos, ensinar-lhes a Bíblia, levá-los à igreja, rir com eles, chorar com eles, discipliná-los quando eles desobedecem, dizer “desculpe” quando eu erro e orar uma tonelada.
6.3.6. Quero que eles olhem para trás e pensem: “Não tenho certeza do que meus pais estavam fazendo ou mesmo se eles sabiam o que estavam fazendo. Mas sempre soube que meus pais me amavam e eu sabia que eles amavam a Jesus.
6.3.7. Talvez nosso coração esteja ocupado demais com medo e preocupação. Quem sabe estejamos exagerando no negócio de ser pai ou mãe. E quem sabe, estejamos tornando nossa vida mais louca do que ela deveria ser. Embora não possamos evitar de nos ocuparmos muito com os filhos – pois na verdade esse é um mandamento bíblico – com uma boa dose de oração, uma injeção de direcionamento bíblico e um pouquinho de bom senso, podemos evitar ficar tão endoidados com os filhos.