1Coríntios 3.1-9

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O autor exorta a igreja a ver a presença de contendas e partidarismos como evidências de uma fé não amadurecida, corringindo duas perspectivas acerca de como devem enxergar-se: como cooperadores numa mesma obra: a edificação do corpo de Cristo.

Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
O apóstolo Paulo progride em suas exortações à igreja de Deus, expondo a seriedade e necessidade de que a comunidade compreenda a grandeza do conceito da unidade que deve ser nutrida entre os membros do corpo de Cristo.
Após ter explicado porque a sabedoria dos homens - sobre a qual os coríntios estavam estribando-se - era inútil para fruir a salvação, e portanto dela não podiam orgulhar-se, visto que os homens naturais (os "sábios" segundo o mundo) são incapazes de compreender o mistério (i.e. a revelação de Cristo Jesus) da redenção, agora Paulo passa a tratar das dissenções de maneira mais específica, porém ainda demonstrando a nulidade da vanglória corintiana posta nos homens que eram na verdade, apenas instrumentos da obra divina (cf. v.9 "[...] de Deus somos cooperadores").
Arvorando para si entendimento e sabedoria, Paulo expõe que na verdade muitos naquela igreja eram carnais (v.1); termo que, dado o contexto da argumentação, designa não uma espécie de associação com o pecado (embora mais a frente ele vá pontuar esse problema na igreja), identificando-os como que reprovados no que tange à salvação, e sim, que não haviam progredido rumo a um aprofundamento espiritual que os tornasse aptos para compreender a operosidade e instrumentalidade de cada membro da igreja, na edificação do próprio corpo (tese que é expandida no capítulos 12 e 13), e a evidência de tal condição era exatamente as contendas e partidarismos que estavam ocorrendo no meio da igreja (v.3).
Em face dessa análise, a temática da presente seção da primeira carta aos coríntios, consiste no partidarismo como evidência de imaturidade espiritual.
Elucidação
A prédica do apóstolo consiste agora numa adversativa que alude à um contra ponto com a seção anterior: "Eu, porém, irmãos..." (v.1). Esse ponto antitético tenciona expor que, embora o apóstolo tivesse ido até aquela cidade e plantado aquela igreja sob o poder de Deus, lhes demonstrando o Evangelho (cf. 2.1,4), e tendo tal poder sido concedido de maneira completa, fazendo com que cada membro de nada a mais precisasse além do próprio ensino divino para que tivesse acesso, pela fé, ao mistério outrora oculto, porém agora por Deus revelado (cf. 2.7,10), o que os tornou "plenos" (cf. 2.6 "[...] expomos sabedoria entre os experimentados (gr. "" trad. = perfeito, adulto, "homem feito", maduro, plenamente desenvolvido" (Dicionário do Novo Testamento Grego (Rio de Janeiro, RJ: JUERP, 2011), p. 221)), a postura que estavam adotando, fomentando entre si contendas e discórdias, declarava que ainda eram imaturos espiritualmente.
Essa condição, como adiantado, não anula a salvação neles operada, mas os faz viver à margem ou distantes da compreensão profunda quanto ao que significa fazer parte do corpo de Cristo. As expressões usadas pelo apóstolo denotam essa perspectiva e um novo balanço ou contraste é empreendido pelo autor: se antes (cf. 1.18-31) Paulo procurou exibir aos cristãos coríntios a diferença que havia entre a sabedoria dos homens e a sabedoria divina, agora a rivalidade é posta entre a espiritualidade que deveria ser vista entre eles, e a carnalidade, à qual davam vasão: "não vos pude falar como a espirituais (gr. πνευματικός), e sim como a carnais (gr. "σάρκινος"), como a crianças em Cristo" (1Co 3.1).
A complementação deixa claro que não se trata de uma reprimenda que destaca que entre aqueles irmãos havia salvos e não salvos, e sim que na verdade, todos os membros daquela comunidade não haviam - nem mesmo enquanto o apóstolo esteve entre eles - desenvolvido-se espiritualmente, a tal ponto de poder suportar um ensino mais consistente que os auxiliariam a reprimir essa inclinação facciosa que estava tomando conta da igreja. Comentando essa metáfora usada a fim de exprimir o sentido de que os coríntios não suportavam um ensino mais consistente do evangelho, devido sua postura infantil e beligerante, Kistemaker comenta:
Como crianças, [os coríntios] ainda consomem leite em vez de alimento sólido, e assim permanecem principiantes na fé. Podem ser comparados com um bilionário que vive como se fosse paupérrimo (KISTEMAKER, 2014, p.131–132).
Entretanto, o apóstolo não está transferindo culpa para si, por não ter podido ensinar o Evangelho em sua amplitude àqueles irmãos, está porém, levando-os a verem-se não como os sábios que julgavam ser, mas como crianças imaturas, que, alimentadas apenas com o leite, não podem avançar no processo de crescimento (v.2). A apresentação do Evangelho não pôde ser feita de maneira mais concisa, porque os coríntios, em sua rivalidade, declaravam que não tinham condições de contemplar toda a beleza da doutrina salvadora.
A partir do verso 3, o autor passa a evidenciar essa condição e a demonstrar quão indigna ela era daqueles que foram chamados ao serviço a Cristo:
1Coríntios 3.3–4 RA
Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens?
Prevendo algum tipo de contestação da parte dos coríntios, o apóstolo demonstra sua tese: a existência de conflitos baseados em preferências pessoais (tema trazido da seção anterior de 1.10-17) segundo a ótica mundana, é a marca da infantilidade espiritual daquela igreja. Essa atitude de forma alguma pode ser associada a Cristo e sua obra na igreja; é antes, parte da manifestação da inclinação pecaminosa presente em todos, que os faz seguir os homens (v.4).
O antídoto usado por Paulo a fim de retificar essa situação naquela comunidade, é demonstrar o princípio básico da cooperação entre os membros daquela igreja, e ele faz isso demonstrando a instrumentalidade da cada servidor, pelo SENHOR: aquele que efetivamente opera tudo em todos.
No versículo 5, o questionamento de Paulo toma como base a denúncia que recebera dos da casa de Cloe (cf. 1.11-12), de que os homens que por lá passaram, pregando e ensinando o evangelho (i.e. Apolo, Cefas e Paulo) estavam sendo vistos como representantes de facções dentro da igreja. Ver esses homens como estandartes de guerra era um erro crasso, que demandava uma correção de perspectiva.
Para que o princípio da cooperação ficasse ainda mais evidente ao público para o qual se dirige, o autor estrutura uma cadeia verbal que relaciona os agentes listados, ao seu devido lugar na obra de edificação da igreja. Os tempos verbais das expressões usadas por Paulo em relação ao trabalho que tanto ele quanto Apolo desempenharam junto à igreja de Corinto, foram flexionados para o aoristo, indicando um ação pontual no passado; enquanto que o verbo que alude a ação de Deus em dar o crescimento à igreja, encontra-se no imperfeito, denotando uma obra que ocorreu continuamente também num tempo pretérito. Naturalmente, isso não informa que Paulo e Apolo executaram uma ação única em relação à igreja de Corinto, mesmo porque, o apóstolo ainda enviou outras duas cartas após 1Coríntios (i.e. a carta lamentosa (cf. 2Co 2.1-4), e a própria 2Coríntios), além de ter feito uma visita à igreja, entre o envio dessas correspondências. E também que Deus não cessou de edificar a igreja, deixando-a por conta própria.
A razão para a disposição dos verbos nos tempos encontrados no texto, sugere na verdade que a intenção do apóstolo é expor a limitação da obra que ele e Apolo desempenharam entre aqueles irmãos, enquanto que a ação de Deus, além de ter usado ambos na edificação daquela comunidade, era contínua, merecendo esta última o destaque e a glória.
Os cristãos em Corinto estavam digladiando-se pela representatividade em Paulo e Apolo, segundo suas preferências pessoais (baseados na sabedoria dos homens (cf. 1.10-17)), mas tal vanglória demonstrava pura infantilidade e imaturidade, pois toda a efetividade da operação edificadora da igreja deve-se a Deus, em quem estão unidos.
Paulo, Apolo, Cefas, o próprio Sóstenes - com quem está atualmente trabalhando (provavelmente em Éfeso) - são todos cooperadores (gr. "συνεργός"), e como a própria expressão sugere em sua etimologia, agem juntos em prol da igreja, mas seu trabalho somente logra êxito porque Deus concede o crescimento, sendo este último, aquele que é digno de ser visto como o agente edificador do corpo de Cristo, conforme ele alude no versículo 7: "[...] Nem o que planta (ref. ao verso 6: "eu (i.e. Paulo) plantei...") é alguma coisa, nem o que rega (ref. a Apolo), mas Deus, que dá o crescimento".
Frente a essa conclusão, Paulo deixa claro que os membros que estavam criando contendas na igreja, dividiam o que deveria ser indivisível, pois "o que planta e o que rega são um" (v.8), e ele diz isso esperando que os membros daquela comunidade percebam como também devem considerar a si mesmos: cooperadores na edificação do corpo de Cristo, conforme ele alude ao comparar figurativamente a igreja a uma lavoura e a um edifício: [...] de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós" (v.9), conclamando-os a verem-se tanto como alvo do trabalho em conjunto que desempenharam Apolo e o próprio Paulo, bem como a seara que aguarda o serviço que devem executar, como é próprio dos que agora fazem parte do povo de Deus, sabendo que a recompensa por tal trabalho será concedida graciosamente, a todos os que cooperarem com a edificação e unificação da igreja (v.8: "... e cada um receberá o seu galardão, segundo seu próprio trabalho").
Transição
Os princípios expostos por Paulo nesta seção, concentram-se em corrigir nossa ótica acerca da igreja, pois, não poucas vezes, erroneamente transformamos a lavoura/edifício de Deus em arena, minando a comunhão e unidade da igreja, demonstrando imaturidade e carnalidade próprias dos que ao invés de seguirem a Cristo, andam segundo os homens.
Tais princípios podem ser relacionadas a partir das seguintes aplicações:
Aplicações
1. Divisões, contendas e individualismos, além de minar a unidade, revelam a condição espiritual de uma igreja.
A assertiva do texto é clara: divisões em uma igreja denunciam claramente a imaturidade da mesma. Tal como crianças que brigam entre si por um brinquedo, assim somos nós quando, ao invés de nos unirmos como um corpo, nos voltamos àquelas preferências pessoais de que o texto tratou anteriormente, usando-as como meios de nos acharmos melhores ou superiores uns aos outros.
Não percebemos isso, mas a causa apresentada pelo apóstolo para que uma igreja não progrida no conhecimento do evangelho, não é algum tipo de incapacidade intelectual ou coisa do gênero. A imaturidade que nos torna como crianças provém das divisões que podem estar contidas em nosso meio.
Por que muitas vezes não absorvemos o conteúdo bíblico como gostaríamos? Porque ainda não compreendemos certos detalhes das Escrituras que fazem parte da base do nosso credo como cristãos? Em parte, pode ser pela complexidade de algumas doutrinas sim, mas isso também pode se dever ao fato de não estarmos experimentando a comunhão verdadeira.
Cristo não permitirá que seu corpo cresça atrofiado, isto é, que uns membros tenham um desenvolvimento adequado em detrimento de outros. Assim, a divisão pode sentenciar nossa igreja a permanecer na infantilidade espiritual até que entenda que ou todos crescemos juntos, e com isso, por igual, ou não ninguém crescerá.
Enquanto rixas, divisões, diferenças e atritos, por pequenos que pareçam, fizerem parte da realidade e cotidiano de uma igreja, ela ficará no jardim de infância, deixando de usufruir do aprofundamento no Evangelho que nos poderia guiar às riquezas do conhecimento de Deus.
2. O modo como vemos uns aos outros, pode contribuir ou impedir, a edificação da igreja.
Por diversas razões, o ser humano, por causa de sua natureza caída, tende a buscar em si qualquer coisa que possa usar para se sentir melhor do que seu próximo, e esse pensamento não difícil de se achar no meio da igreja de Cristo.
Entretanto, uma compreensão saudável do que significa ser parte do corpo de Cristo, nos levará a ver-nos como partes essenciais da comunidade da fé da qual fazemos parte.
Paulo, Apolo, Cefas, o pastor da igreja, os presbíteros, e principalmente, cada crente, todos somos cooperadores, servindo ao Senhor Jesus. Não há quem deva ser visto como melhor ou pior, mais espiritual ou mais carnal; o ressaltar dessa categorizações só acentua que somos o segundo ao invés do primeiro, como fala o texto.
Somos servos de Cristo, e nosso trabalho - a edificação da igreja - deve nos levar a honrar nossos irmãos, e nos felicitarmos em tê-lo como nosso parceiro nessa tão gloriosa obra.
Se há alguém em quem devemos nos gloriar, não são os homens, mas o SENHOR, que nos fez um.
3. Todos estamos imbuídos da responsabilidade de trabalhar para o bem e crescimento da igreja, “porque de Deus somos cooperadores”.
Ligado a visão que devemos ter uns dos outros, está a compreensão de que, por essa razão, como é evidente no texto, todos temos a responsabilidade de cooperar com o bem da igreja.
Os coríntios viam-se dissociados da tarefa de contribuir com a maturação e saúde da igreja, por isso, conseguiam separar um tempo para suas contendas e divisões ímpias. Além de ser um mal uso do tempo, isso incorreu num profundo menosprezo ao dever de servirem uns aos outros e à igreja como agentes do Reino.
Há muito trabalho a ser feito: há irmãos precisando de apoio espiritual, outros que precisam de algum suporte em determinada área da vida, uns que precisam de orientação quanto a algum problema que enfrentam, seja com relação a luta contra seu próprio pecado, seja com o de outros. Se não tivermos receio de pergunta em que podemos ser útil, não faltarão respostas que nos indiquem como podemos contribuir com a igreja de Deus.
Um planta, outro rega, outro colhe, outro prepara o solo, ou aduba, e juntos, amando-nos e servindo-nos uns aos outros, veremos o crescimento concedido por Deus no plantio de sua lavoura, e na edificação de seu edifício.
Conclusão
O texto de 1Coríntios 3.1-9 é um sério lembrete de que a unidade da igreja é fortalecida ou enfraquecida, a partir do compromisso que seus membros firmam ou se furtam de exercer, na cooperação do crescimento e edificação da igreja.
A negligência para com esse dever, motivada por divisões e individualismos, fará com que sejamos sempre vistos por Deus com crianças na fé, nunca amadurecendo no conhecimento do Evangelho de Jesus Cristo, aquele concede crescimento ao seu povo.
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