Jesus e a Mulher Samaritana
Jesus e a Mulher Samaritana
Observe os maravilhosos julgamentos de Deus. Cristo abandona a Judeia, onde havia sacerdotes, sumo sacerdotes e fariseus que pareciam santos no vestuário, na conduta e na religiosidade. E ele vem a uma prostituta enredada em pecados, que mesmo agora não tem qualquer esperança de sua própria salvação, de modo que você pode aprender a verdade daquilo que ele diz em outra parte: “publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.” E Paulo afirma: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Além disso, o fato de a mulher ter encontrado Cristo, sua salvação, aparentemente, por acaso junto a uma fonte, onde ela pretendia fazer outra coisa, significa que nossa salvação vem a todos nós de forma imerecida, quando estávamos buscando ou fazendo alguma outra coisa.
A CORTESIA DE JESUS. DESIDÉRIO ERASMO: ora, foi conveniente que os discípulos se ausentassem nesse momento, porque Jesus haveria de mencionar algumas questões pessoais para ela que poderiam parecer impertinentes de se falar na frente de outras pessoas. Na verdade, nessa matéria nosso Senhor Jesus mostrou para os mestres do Evangelho um modelo de cortesia e mansidão, pois em sua maneira de tratar uma mulher que era pecadora e que prostituíra a sua castidade com mais de um homem, ele esteve tão longe de desprezá-la que mostrou consideração até mesmo pelo recato de uma prostituta, provendo-lhe privacidade. PARAPHRASE ON JOHN 4:8.
CRISTO FALA FIGURADAMENTE DO ESPÍRITO SANTO. MARTIN BUCER: deve-se notar que Cristo faz uma alusão figurada ao Espírito Santo, a quem chama, metaforicamente, de “água viva”. Pois assim como a água viva, que alivia a sede dos seres humanos, está sempre a jorrar, assim também “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”, impedindo, eternamente, a sede entre os justos, enquanto os faz finalmente abençoados, e aqui ele constantemente os refrigera com uma fé segura.
ÁVIDA PARA CRER, ELA FAZ UM PEDIDO SINCERO. DESIDÉRIO ERASMO: a sinceridade modesta da mulher era tão grande que, enquanto os judeus em geral interpretam tais ditos de forma maliciosa, ela, sem entender aquilo que fora dito, mas confiando e amando mesmo assim, disse: “Senhor, dá-me um pouco dessa água para que eu não precise vir aqui buscá-la quando estiver com sede.” Embora essa fosse uma resposta tola, ela de fato revelou um coração pronto para crer. PARAPHRASE ON JOHN 4:15.
Por meio dessa ordem, Cristo, sabiamente, continua a manifestar à mulher os seus pecados, para que, finalmente, posto de lado todo gracejo, ela possa ter sede intensa das promessas do Evangelho. Pois ninguém busca o Evangelho de maneira intensa e zelosa a menos que conheça os próprios pecados e perceba a própria condenação em razão de seus pecados
Visto que você revelou o meu pecado para mim, creio que você sabe ensinar uma justiça que me libertará do pecado. Você me conduziu à morte; traga-me de volta à vida. Se você me pôs no inferno: traga-me de volta ao céu, libertada do inferno.” COMMENTARY ON JOHN 4:19.
Ela toma um curso próprio e regular quando consulta um profeta, para que ela não venha a errar na adoração de Deus. É como se ela perguntasse ao próprio Deus de que maneira ele prefere ser adorado; pois nada é mais ímpio do que inventar várias maneiras de adoração sem a autoridade da Palavra de Deus.
A ADORAÇÃO AUTÊNTICA É SINCERA. WOLFGANG MUSCULUS: dois vícios específicos têm predominado naqueles que, por ainda serem carnais, não conhecem ou não buscam a verdadeira adoração. O primeiro é que eles consideram como culto e adoração de Deus coisas externas. O segundo é que eles se aproximam de Deus por meio de uma santidade fingida, com certas palavras ou ações externas, sendo que, no coração, estão fazendo outra coisa. Esses dois vícios são tão característicos dos carnais que os vemos não apenas entre aqueles que medem a adoração de Deus com tradições humanas, que são opostas à Palavra de Deus, mas também entre aqueles que têm cerimônias que são prescritas por Deus. Por exemplo, o Senhor estava falando com uma mulher samaritana sobre a anulação da adoração em cada uma das duas nações, dos judeus e dos samaritanos. Os judeus tinham cerimônias prescritas por Deus, e os samaritanos tinham uma adoração inventada por seres humanos. Nesse aspecto, sua maneira de adoração era certamente diferente. No entanto, ambos estavam laborando sob um dos dois vícios: primeiro, estavam adorando a Deus por meio de ritos externos de adoração; segundo, faziam isso de forma insincera.
Contra esses dois vícios, ele opõe essas duas coisas, espírito e verdade. Ele opõe espírito à ideia de que nós somos absolvidos de nossos pecados por meio de rituais externos de adoração, tais como cerimônias materiais, ofertas rituais, purificações, guarda do sábado e coisas do tipo. Ele está falando a respeito do espírito dos seres humanos, que nós chamamos de mente. Relacionadas com a mente estão aquelas coisas que são requeridas para a verdadeira adoração: fé, amor, temor, reverência e respeito, obediência, submissão, piedade e justiça. Ele opõe verdade à insinceridade, que é algo que os profetas também repreendiam entre os judeus. Por meio de Isaías, o Senhor diz: “este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim.” A adoração que é centrada em cerimônias externas está, frequentemente, inclinada à insinceridade, mas a adoração espiritual que o Senhor aqui menciona não é dessa maneira. Ela não pode ser sem verdade, e não pode ser escrava da ostentação, mas é visível unicamente a Deus.
Primeiro, a barreira cultural. O nome Sicar significa “cidade dos bêbados”. Jesus, porém, mandou que seus discípulos comprassem comida em Sicar. Os judeus consideravam imunda a comida dos samaritanos. Além do mais, um rabino não podia conversar com uma mulher em público. Jesus não só conversou com ela, mas lhe pediu um favor. A mulher tinha uma vida moral reprovada pela lei. Já tinha tido cinco maridos e agora vivia com um amante. Era uma mulher desprezada, mas Jesus a valorizou. William Barclay diz que os mais radicais proibiam que um rabino saudasse uma mulher em público. Um rabino não podia falar em público com a própria mulher. A quebra dessa regra por Jesus podia significar para a cultura o fim de sua reputação.
Segundo, a barreira racial. Como já deixamos claro, o povo samaritano era uma espécie de caldeamento de raças (2Rs 17.6,24). O povo samaritano era meio judeu e meio gentio. Havia perdido sua identidade racial. No tempo de Jesus, a desavença entre judeus e samaritanos perdurava por mais de quinhentos anos. Um judeu considerava um samaritano combustível para o fogo do inferno. Eles não se davam. Não bebiam nos mesmos vasos. No entanto, Jesus conversou com a samaritana e lhe pediu um favor. Concordo com William Barclay quando ele diz que a postura de Jesus sinaliza o rompimento do nacionalismo, o que demonstra a universalidade do evangelho.
Terceiro, a barreira religiosa. A separação entre judeus e samaritanos se relacionava, também, com a apostasia religiosa dos samaritanos. Eles haviam perdido a integridade doutrinária. Os samaritanos não preservaram a fé intacta. Diziam que o monte Gerizim era o lugar do verdadeiro templo e o lugar da verdadeira adoração. Rejeitaram o Antigo Testamento. Criam apenas nos livros da lei, o Pentateuco. Está provado que os samaritanos tinham uma religião sincrética, misturada e herética. Quando João Hircano, o general caudilho judeu, em 129 a.C., atacou Samaria e destruiu o templo samaritano, o ódio dos samaritanos pelos judeus agravou-se intensamente. A conversa de Jesus com a mulher samaritana tem todo esse cenário religioso como pano de fundo. Jesus supera todos esses obstáculos, vence todas essas barreiras e triunfa sobre todos esses preconceitos para alcançar o coração dessa mulher.