A ocupada colmeia (III) - Flamboyant

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Em nosso último estudo pensamos em três questões:
O que é uma igreja?
Pessoas que saíram do mundo e foram enviadas de volta a ele!
Como ocupo meu lugar na igreja?
Reconhecendo e exercendo os dons que me forma dados por aquele que me enviou!
Para que construir uma igreja?
Para que, com uma estrutura favorável, possamos melhor cumprir a missão de Deus!
Em João 20:21, depois de testemunhar na vida o que é ser enviado por Deus, agora Jesus nos envia. Novamente Jesus disse: "Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio." RA.
Marcos 16.14–20 RA
Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.
Sobre o final de Marcos, há um debate, especialmente em Marcos 16:9-20, justamente na seção onde está o texto de hoje. A questão é se esse final faz parte ou não do texto original escrito por Marcos. Dewey Mulholland em seu comentário sobre Marcos (1978) afirma:
“Há um consenso quase universal de que, à luz das evidências internas e externas, esses finais não são parte da narrativa original.” (1999, p. 238).
No entanto Hendriksen (2014, p. 729) diz que essa opinião não é unânime e cita vários estudiosos que defendem a originalidade dos 12 últimos versos. Já o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia conclui:
“Tomada como um todo, contudo, a evidência textual favorece o final chamado ‘mais longo’.” (2013, p. 722).
Embora considerando a forte possibilidade de que foi feito um acréscimo, também creio que esse final de Marcos pode perfeitamente transmitir lições para a prática do Corpo de Cristo hoje.

A questão da incredulidade

Jesus censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração porque não acreditaram nos que o tinham visto depois de ressurreto. As testemunhas são apresentadas em grau de credibilidade da época, do menor para o maior, sendo que o testemunho das mulheres não era considerado; o legítimo depoimento de duas testemunhas não foi aceito e o próprio Cristo fala para repreender a incredulidade. Jesus confirma as testemunhas anteriores e nos garante que o testemunho da comunidade da fé sobre a ressurreição é o testemunho do próprio Cristo ressurreto (EDWARDS, 2018, p. 620).
Como afirma Matthew Henry, um pastor presbiteriano que nasceu em meados do séc. XVII, escrevendo sobre Marcos 16:14-18.
As evidências da verdade do evangelho são tão completas que aqueles que não o recebem podem ser justamente repreendidos por sua incredulidade (1997, Mc 16.14).
Aceitar quem Jesus é, sempre foi um desafio, mesmo para aqueles que andaram com Ele. Por isso que quando Cristo diz “vão e preguem” Ele afirma que quem crer será salvo e quem não crer será condenado. Um nítido contraste com a atitude de descrença dos discípulos.
O batismo é só uma evidência externa da questão crucial: acreditar ou duvidar. Não crer em quem é Jesus depois de ouvir a proclamação do evangelho não é só não compreender.
O verdadeiro ceticismo é as trevas da alma, e não apenas uma atitude mental eu requer provas empíricas (CHAMPLIN, 2002, p. 803).
Agostinho disse: “Creio para que possa entender”! (Idem). Os discípulos estavam no limite entre a salvação e a perdição, porque não criam.
“Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. (Marcos 16:15), deixa claro que fomos comissionados. Não creio que haja dúvida em ninguém que já passou algum tempo na igreja sobre o que Jesus nos mandou fazer.
Considere os 21 anos que tenho de ministério. São 1092 semanas. Subtraindo 84 semanas de recesso e multiplicando o resultado por 4, que seria a média de sermões pregado por semana (embora pregue menos que isso agora, durante a maior parte desses 21 anos, com até 21 igrejas para patorear em um distrito, facilmente cheguei a mais de 5 sermões por semana durante esse período). Lá se vão 4032 sermões. Contando ainda os 81 sermões pregados este ano, incluindo este, são 4113 sermões pregados em 21 anos e 6 meses. Vou chegar a 5 mil em 2027! Um pastor distrital com esse tempo de ministério não conseguiu ensinar às igrejas por onde passou o que Jesus mandou fazer? Fazendo uma autoavaliação, acho que durante a maior parte do ministério falei muito sobre o que fazer e pouco sobre COMO fazer!
A promessa para quem vai é de proteção miraculosa. “Estes sinais acompanharão...” Mc 16:20 “Os discípulos foram a toda parte e anunciavam a mensagem, e o Senhor cooperava com eles, confirmando-a com muitos sinais.” (Nova Versão Ttransformadora). Quem leu o texto do último sermão, talvez lembre desse texto:
“Igrejas missionais percebem a si mesmas não tanto como enviadoras, mas como sendo [elas mesmas] enviadas.” (BARRET, 2044, pág. X, apud Barro, 2018, p 30).
Uma igreja missional se preocupa em como cumprir a Missio Dei.
Afinal, o que é uma igreja missional? Vamos voltar a história de São Francisco (para abreviar, SF).

A história da “colmeia”

Quando a IASD foi aconselhada a desenvolver esforços bem organizados na SF de 1900, o evangelismo ali já tinha 41 anos. “Foi aberto em São Francisco um restaurante vegetariano, também uma mercearia e salas de tratamento” (T7, p. 110 [12/dez/1900]).
Tudo começou em 1859, quando Merritt G. Kellogg chegou à California, depois de uma viagem de carroça. Ele trabalhou em SF como carpinteiro e em paralelo ao trabalho realizada um evangelismo pessoas. Em 1861 catorze pessoas foram batizadas em resultado da série de conferências. Seis anos depois ele saiu de lá para estudar medicina e no ano seguinte, 1868, durante a Assembleia Geral da IASD, fez um fervoroso apelo pelo envio de um pastor para SF.
Na Conferência Geral de 28/mai/1868 ficou decidido que dois pastores iriam para SF: John N. Loughborough e Daniel Bourdeau. Eles chegaram lá em 18 de julho do mesmo ano. Sobre o contexto do chamado de Loughborough para o novo campo missionário, Arthur L. White (neto do casal White) em seu livro Ellen White: mulher de visão (2015, p. 157) diz que ele teve “não menos do que 20 sonhos em que se via trabalhando lá.”
Quando Tiago White fez o apelo enfatizando o trabalho em dupla como sendo uma plano divino, o pastor Bourdeau disse que tinha ido a reunião com todos os seus bens, disposto a aceitar o chamado para onde houvesse necessidade e, portanto, aceitava o chamado para a Califórnia.
John N. Loughborough escreveu sobre o trabalho que foi realizado ali em seu livro O Grande Movimento Adventista, publicado em 1905 (2014, p. 326-330). Lá ele descreve como até o ano de 1871 cinco igrejas já estavam organizadas a 71 km de SF e como “em junho do mesmo ano, erguemos nossa primeira tenda pela primeira vez em São Francisco.” (p. 327). Também neste ano o Pr. Bourdeau deixou SF e em 17 de junho chegou um outro pastor para ajudar no trabalho. A partir daí a descrição que Loughborough faz de como se percebia o cuidado divino na manutenção do trabalho é inspiradora.
O autor diz que inimigos na cidade vigiavam o trabalho e estavam prontos a prejudicar a plantação da igreja ali. Mas também desafios internos conspiravam contra o trabalho.
“Certo companheiro de obra insistiu em seguir um curso de ação que eu tinha certeza que traria vergonha a ele mesmo e também à causa.” (Idem).
Apesar de muito advertido, ele continuou obstinado até que em 23/jan/1872 o Pr. Loughborough viajou do condado de Sonoma para SF, a fim de verificar o que poderia ser feito para acalmar a situação e uma reunião foi marcada para o dia 28/jan, domingo, às 9h00.
De saída para a reunião, já no domingo de manhã, o Pr. Loughborough encontrou o pastor sobre quem seria tratado o assunto sentado na calçada, chorando e dizendo que não iria à reunião. Ele disse que tinha ido ao correio no dia anterior, à noite e ficou consternado com uma carta que Ellen White havia lhe mandado.
“É um testemunho que ela escreveu para mim... Ele pediu que eu contasse à igreja que ele havia recebido um testemunho da irmã White, reprovando o por sua conduta e que ele havia aceito o testemunho, pois era verdadeiro.” (p. 329).
Em uma viagem com a estrutura de hoje, de carro são 34 horas de Battle Creek a São Francisco. O Pr. Loughborough descreve a linha do tempo até a chegada da carta, dia 27/jan/1872 e se deu da seguinte forma:
A. 10/dez/1871. Bordoville, Vermont – Ellen White tem uma visão e parte dela trata do assunto de SF;
B. 27/dez/1871. Ellen White começa a escrever para o irmão em SF, mas não termina, por alguma razão desconhecida;
C. 18/jan/1872. Battle Creek, Michigan – Ellen White é despertada de madrugada com a impressão de que deveria terminar e enviar o testemunho para SF. Seu filho envia a carta e se certifica de que irá no malote da manhã. “Naquela época, demorava cerca de nove dias para que as cartas chegassem por Terra de Michigan à Califórnia.” (p. 329).
D. 27/jan/1872. A carta chega oa destinatário exatamente um dia antes da reunião para tratar do seu assunto.
“Nossos irmãos em São Francisco prontamente perceberam que ninguém poderia ter escrito para Battle Creek, contando o problema a Ellen White em tempo suficiente de ela escrever essa carta, pois tal situação ainda não existia.” (p. 329). “Se a carta tivesse chegado no domingo à noite, dia 28, em vez de sábado à noite, dia 27, haveria, sem dúvida, uma triste ruptura na igreja.” (p. 330).
Veja como Deus estava agindo para que o trabalho ali prosperasse, afinal a obra é dEle, a igreja é dEle, a missão é dEle!

Se nos envolvermos na Missio Dei, teremos muitos desafios, mas também muitas evidências de que Ele está agindo, afinal a missão é dEle!

Voltando ao texto comentado desde o primeiro capítulo desta série:
“Durante os últimos poucos anos, a ‘colmeia’ em São Francisco tem sido sem dúvida uma colmeia muito ocupada. Muitos setores do trabalho cristão têm sido desenvolvidos...” (Review and Herld, 5/jul/1906).
Embora, como informação histórica, seja uma descrição do estava acontecendo em SF, claro que a “ocupada colmeia” é um ideal divino para as demais igrejas. A história que se passou em SF nos ajuda a entender tanto que Deus está agindo, quanto como seguir os conselhos inspirados torna mais segura a tarefa que está diante de nós.
Este exemplo nos mostra COMO a igreja pode pensar naqueles cujas necessidades precisam ser atendidas e COMO usar variados métodos. A igreja de São Francisco era uma igreja fora das paredes.

A igreja missional e a perspectiva de COMO fazer

Com a conversão de Constantino a perspectiva de missão também muda porque supostamente todos eram cristãos. As preocupações da igreja mudam para a sua manutenção institucinal e gradativamente ela vai perdendo a característica missional.
Conceituar a igreja missionária, como diz Timothy Keller em seu livro Igreja Centrada, tem a perspectiva de ter sido tratado de muitas formas por muitos autores em dezenas de livros (2014, p. 297). Recorrendo a alguns desses muitos autores, quero sugerir aspectos para a nossa reflexão:
Ela entende o meio
“Estabelecer uma igreja missional significa plantar uma igreja que faz parte da cultura que você quer alcançar.” (STETZER, 2015, p. 15).
Ela “dialoga” com o mundo
“Dessa forma ela se torna uma igreja para o mundo.” (REIMER, 2011, p. 201).
Ela é serva na Missio Dei
“Descrever uma igreja como ‘missional’ significa definir a comunidade cristã... que existe não para si mesmo, mas para levar as boas-novas ao mundo.” (GOHEEN, 2014, p. 21).
Ela se define na soma dos esforços pessoais
“Na igreja missional todos se percebem como participantes desse chamado.”(BARRO, 2018, p. 30).
Há um século Ellen White já aconselhava a igreja a respeito de conceitos missionais que estamos estudando agora.
“Vossa voz, vossa influência, vosso tempo – tudo isso são dons de Deus, e devem ser usados em ganhar pessoas para Cristo.” (WHITE, 2006, p. 38).
Estudando os testemunhos, os conselhos da comunidade da fé, com a Bíblia como guia maior, podemos entender como a que igreja pode se movimentar em direção a realização do plano divino para o Corpo de Cristo.

Conclusão

A incredulidade dos discípulos estava colocando a todos eles no limite entre fazer parte ou não do Reino de Deus. Jesus disse que não só eles deveriam crer, mas também falar a respeito disso a todas as pessoas, para que elas também cressem e fossem salvas. COMO fazer isso? O exemplo da “colmeia” de São Francisco nos ajuda a entender o COMO. Quando a igreja daquela época é comparada a uma colmeia e vemos a descrição do que estava acontecendo ali, estão sendo apresentados insights daquilo que chamamos hoje de igreja missional:

Uma igreja que entende as necessidades do meio em que está e “dialoga” com o mundo que ela quer alcançar. Uma igreja que serve aos propósitos divinos participando da Missio Dei!

Participar desse movimento é se envolver em um projeto divino. É essa oportunidade que está diante de nós agora.
ASSISTA EM: https://www.youtube.com/watch?v=ieyuMvjEL_E&t=8180s
REFERÊNCIAS: BARRO, Jorge H. A igreja missional. Práxis Missional. Londrina-PR. vol. 1, nº 1, p. 29-37, 2018. Disponível em: <https://praxismissional.com.br/a-igreja-missional-por-jorge-henrique-barro/>. Acesso em: 3/nov/2022; CHAMPLIN, R. N. O Novo testamento interpretado: versículo por versículo: Mateus e Marcos. São Paulo: Hagnos, 2002; DORNELES, Vanderlei, ed. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Vol. 5. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013); EDWARDS, James R. O Comentário de Marcos. São Paulo: Shedd, 2018; FORTIN, Denis & MOON, Jerry. Enciclopédia Ellen G. White. Ed. Wellington Barbosa et al. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018; GOHEEN, Michael W. A Igreja Missional na Bíblia: luz para as nações. São Paulo: Vida Nova, 2014; HENDRIKSEN, William. Marcos. Comentário do Novo Testamento. 2a edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014; HENRY, Matthew & Thomas Scott. Matthew Henry’s Concise Commentary. Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, 1997; KELLER, Timothy. Igreja Centrada: desenvolvendo em sua cidade um ministério equilibrado e centrado no evangelho. São Paulo: vida Nova, 2014; LOUGHBOROUGH, John N. O Grande Movimento Adventista. 3ª ed. Oregon, OR, USA: Adventist Pioneer Library, 2014; MULHOLLAND, Dewey. Marcos: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1999; REIMER, Johannes. Abraçando o Mundo: teologia de implantação de igrejas relevantes para a sociedade. Curitiba: Esperança, 2011; STETZER, Ed. Plantando Igrejas Missionais; como plantar igrejas bíblicas, saudáveis e relevantes à cultura. São Paulo: Vida Nova, 2015; WHITE, Arthur L. Ellen White: mulher de visão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015; WHITE, Ellen G. Testemunhos para a Igreja. Vol. 7. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006; ___________ Testemunhos para a Igreja. Vol. 9. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006.
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