salmo 13 cultivando a esperança

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Salmo 131
1 SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.
2 Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo.
3 Espera, ó Israel, no SENHOR, desde agora e para sempre.
Tema: CULTIVANDO A ESPERANÇA
INTRODUÇÃO
Viktor Frankl, um neurologista e psiquiatra austríaco, escreveu a respeito dos anos em que ficou prisioneiro nos horrores de Auschwitz e Dachau, descrevendo o frio, o medo, a dor, os insetos, a inanição, a exaustão, mas disse que sobreviveu porque nunca perdeu a esperança.
Ele também escreveu o que acontecia quando um prisioneiro perdia a esperança: ele se recusava a sair da cama, recusava-se a vestir-se ou lavar-se, fazendo-se de surdo aos amigos que tentavam ajudá-lo e às ameaças dos seus captores. Ele simplesmente ficaria deitado na cama até morrer, uma vez que perdesse toda a esperança.
A esperança é absolutamente essencial para os cristãos. Quando ela se enfraquece, o resultado é sempre o mesmo: a inércia espiritual. É imperativo, portanto, lembrar que estamos numa jornada – e ainda bem longe de casa – e que a esperança é o combustível que nos mantém em movimento. Nós precisamos conservá-la e alimentá-la.
Mas o que é, exatamente, a esperança? Muitas vezes, nosso entendimento do que é a esperança é confuso e desajeitado, e assim quase não compreendemos seu conceito correto.
Será que esperança é acreditar que determinada coisa possa acontecer?
Será que esperança é esperar que as coisas vão melhorar?
É desejar alguma coisa contra todas as probabilidades?
É manter uma atitude alegre a despeito do que acontece?
NÃO, não é nenhuma dessas coisas.
Em suma, esperança é aguardar confiantemente e com expectativa aquilo que Deus prometeu. Veja a dica de viagem n.o 3.
Note duas coisas a respeito desta definição. Para começar, isso significa que a esperança encontra-se fundamentada nas promessas de Deus: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança(Rm 15.4).
A Bíblia nos mostra o que Deus prometeu. Ele prometeu bênçãos espirituais eternas de forma incondicional. Efésios 1:3 diz: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares”.
E ele prometeu bênçãos temporais presentes de forma condicional. Em Mateus 6:33 Jesus disse: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.
Essas bênçãos de hoje são concedidas com base naquilo que ele considera melhor para sua eterna glória e nosso bem espiritual. Além disso, a definição acima significa que a esperança está alicerçada nos atributos de Deus: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança(Sl 62.5).
Não existe esperança se Deus não é imutável; suas promessas poderiam ser alteradas.
Não há esperança se Deus não é soberano; suas promessas poderiam ser frustradas.
Não há esperança se Deus não é onisciente; suas promessas poderiam ser mal direcionadas.
Não existe esperança se Deus não é onipotente; suas promessas poderiam ser obstruídas.
Mas ele é todas essas coisas – e muito mais. “Pois quem nos céus é comparável ao SENHOR? Entre os seres celestiais, quem é semelhante ao SENHOR?” (Sl 89.6). O mais poderoso dos anjos e o maior dos seres humanos não passam da sombra de uma sombra em comparação com Deus, e menos do que nada em relação a ele.
Somente Deus é infinito em poder, sabedoria e bondade. Esse tipo de esperança serve de âncora para a alma: “a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós”(Hb 6.18b-20a). Para que serve a âncora? Ela mantém o navio estável em águas turbulentas. Dessa mesma forma, a esperança fornece estabilidade quando as circunstâncias da vida ameaçam nos submergir. Essa é a razão por que Davi declara no Salmo 131: “Espera, ó Israel, no SENHOR, desde agora e para sempre(v. 3).
Ele encoraja o povo de Deus a esperar confiantemente e com expectativa aquilo que Deus prometeu. De que forma? Encontramos a resposta na primeira parte do Salmo. Basicamente, Davi afirma que precisamos lidar com duas coisas.
Em primeiro lugar, precisamos lidar com nosso orgulho subjugando e humilhando nosso coração (v. 1).
Em segundo lugar, precisamos lidar com a providência de Deus acalmando e sossegando nossa alma (v. 2).
É impossível esperar com confiança e expectativa aquilo que Deus prometeu quando nosso coração está cheio de orgulho e atribulado.
Subjugar e humilhar o coração (v. 1)
“SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.”
Neste versículo, Davi afirma três coisas – cada uma delas revela algo a respeito da natureza do orgulho.
A afirmação de Davi de que seu “coração não é soberbo” revela que o orgulho é congênito; ou seja, ele reside no coração.
A afirmação de Davi de que seu olhar não é altivo revela que o orgulho normalmente conduz à ambição – desejando aceitação, admiração e bajulação.
E a afirmação de Davi de que ele não anda “à procura de grandes coisas” revela que o orgulho normalmente conduz à presunção –desejando “grandes”coisas e procurando coisas “maravilhosas”.
No final das contas, o orgulho é o pior pecado de todos. Satanás se rebelou porque quis ser igual a Deus. Adão e Eva fizeram a mesma coisa. Desde então, o homem tem estado apaixonado por si mesmo. Em seu estado de inocência no jardim, Adão e Eva eram dirigidos por um amor próprio verdadeiro.
Eles amavam a felicidade. Pelo fato de verem Deus como seu maior bem – sua maior fonte de felicidade – eles amavam a Deus e, por essa razão, seus sentimentos eram corretamente dirigidos.
Mas, desde a Queda, nossa alma foi direcionada por um amor próprio falso. Nós ainda amamos a felicidade. Mas, não vemos mais Deus como o maior bem; não vemos mais a Deus como a fonte da felicidade, em vez disso, vemos a nós mesmos nessa função. Pelo fato de não mais amarmos a Deus, nossos sentimentos são mal direcionados.
Esse amor colocado no lugar errado encontra-se na raiz de todo e qualquer pecado e se opõe a Deus usurpando-lhe a glória. Essa é a razão por que o orgulho é objeto do ódio de Deus. Provérbios 16:5 diz: O Senhor detesta os orgulhosos de coração. Sem dúvida serão punidos. Thomas Manton adverte: “Deus detesta os outros pecadores, mas contra o orgulhoso ele declara aberta oposição e hostilidade”.
Meus irmãos, O orgulho é nosso maior problema – não é a saúde débil, não é filhos rebeldes, vizinhos difíceis, relacionamentos quebrados, problemas financeiros, sonhos desfeitos ou aflições assustadoras. Nosso maior problema é o nosso ORGULHO.
Davi sabe disso, e sabe que seu orgulho torna impossível “esperar no SENHOR” no meio da aflição. Assim, ele alega ter subjugado e humilhado o próprio coração. Isso não é alegar perfeição, mas é um reconhecimento de sua busca sincera da humildade.
De acordo com Jonathan Edwards, humildade é “um hábito da mente e do coração em harmonia com nossa comparativa indignidade e vileza diante de Deus, ou um senso de nossa própria miséria diante dele, com a disposição de agir de forma adequada a isso”.
Edward menciona dois tipos de humildade:
a humildade natural 
a humildade moral.
Edwards diz que a humildade natural procede da percepção de nossa “miséria” (ou pequenez) como criaturas diante de Deus. Em outras palavras, ela surge quando nos comparamos à excelência natural de Deus – sua grandeza. Nós somos fracos em comparação com o seu poder, estúpidos em comparação com sua sabedoria, ignorantes em comparação com seu conhecimento, pequenos em comparação com sua soberania.
Em segundo lugar, Edwards fala de humildade moral, que procede da percepção de nossa “vileza” como pecadores diante de Deus. Em outras palavras, ela surge quando nos comparamos com a excelência moral de Deus – sua bondade.
Nós reconhecemos que temos pecado contra a graça e a misericórdia de Deus e que estamos desprovidos de virtudes morais adequadas que nos recomendem a Deus. Em decorrência disso, tornamo-nos cientes de nossa completa dependência dele. A humildade provém de uma compreensão bíblica de quem nós somos e de quem Deus é, o que nos conduz à absoluta submissão e à absoluta dependência de Deus.
John Owen diz: “É humilhar nossa alma diante da lei da providência de Deus em todas as suas dispensações – prostrar-nos diante da sua soberania, sabedoria, justiça, bondade, amor e misericórdia”. É aquilo que Paulo quer dizer quando escreve: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação (Fp 4.11).
Ele precisou aprender a viver contente porque isso ia contra sua natureza – o orgulho. Dessa mesma forma, precisamos “aprender” a subjugar e humilhar nosso coração. Quando fazemos isso, o resultado é contentamento –uma qualidade indispensável no que diz respeito a esperar com confiança aquilo que Deus prometeu.
Acalmar e aquietar a alma (v. 2)
“... fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo.Por que a alma de Davi precisa ser acalmada e aquietada? Talvez ele esteja lutando com algum desejo desenfreado (superestimando algo que ele quer), algum anseio desmedido (supervalorizando alguma coisa que ele possuía), alguma preocupação duvidosa (subestimando o poder de Deus), ou alguma murmuração ingrata (subestimando a bondade de Deus).
Qualquer que tenha sido o caso, ele diz que fez “calar e sossegar a [sua] alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe”. O que Davi está querendo dizer? Thomas Manton explica: “A criança desmamada não contesta nada e não espera nada além daquilo que sua mãe vai lhe dar”. Uma criança desmamada foi excluída da porção de leite da sua mãe, implicando que ela não recebe mais aquilo que espera. De forma semelhante, Davi acalma e aquieta sua alma cultivando a abnegação. Ele enfraquece sua conexão com o mundo e aprende a valorizar as coisas de acordo com o valor que têm. Além disso, uma criança desmamada confia em sua mãe com respeito a tudo, e descansa na provisão dela. Dessa mesma forma, Davi acalma e aquieta sua alma cultivando a dependência, reconhecendo que todas as coisas procedem de Deus. Por último, uma criança desmamada está contente com aquilo que sua mãe lhe dá. Em outras palavras, ela está satisfeita com coisas pequenas. Dessa mesma forma, Davi acalma e aquieta sua alma cultivando o contentamento e aprendendo a viver com aquilo que Deus lhe dá. Essa figura de uma criança desmamada é semelhante à que Cristo nos apresenta em Mateus 18. Os discípulos querem saber quem é o maior no reino do céu (v. 1). Não sabemos o que estimulou essa pergunta, mas sabemos qual é a raiz dela –o orgulho. Cristo responde colocando uma criança no meio deles, dizendo: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”(v. 3). O que ele está querendo dizer? Para respondermos essa pergunta, precisamos distinguir cuidadosamente entre ser infantil e ser como uma criança. Ser infantil é ser imaturo. A Bíblia nos adverte para não sermos infantis na maneira como pensamos ou nos comportamos (Mt 11.16; 1Co 14.20; Ef 4.14). Por isso, quando Cristo diz que devemos “tornar-nos como crianças”, ele com certeza não está dizendo que devemos ser infantis. Ele está dizendo que devemos ser como crianças. De que forma? Ele nos diz: “Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”(v. 4). Aqui, Cristo chama a atenção de seus discípulos para o fato que as crianças dependem totalmente dos adultos para sobreviverem. Por extensão, ele está lhes dizendo que precisam livrar-se de todo e qualquer desejo de grandeza e admitir que, como crianças, dependem de Deus para todas as coisas. Ou seja, eles precisam humilhar-se. Precisamos firmar nossa mente nesta verdade singular: Deus que é infinitamente sábio, incomparavelmente poderoso e infinitamente bom – é um Pai que nos ama e sabe o que é melhor para nós. Nós acalmamos e aquietamos nosso coração quando nos submetemos à sua vontade comrespeito às condições presentes e quanto aos acontecimentos futuros.
Conclusão
“Espera, ó Israel, no SENHOR, desde agora e para sempre”(v. 3).
Nós não conseguiremos esperar se não aceitarmos duas verdades.
Com respeito ao nosso orgulho, precisamos de um coração submisso e humilde.
Com respeito à providência de Deus, precisamos de uma alma submissa e sossegada.
Quando tudo isso está em ordem, a esperança serve de âncora para nossa alma mesmo quando passamos pelas mais profundas águas da aflição.
Tua âncora vai ficar firme nas tormentas da vida, quando as nuvens abrirem suas asas agitadas? Quando as fortes ondas se levantarem, e os cabos se esticarem, tua âncora se partirá ou firme ficará?
Nós temos uma âncora que conserva a alma, segura e certa quando se levantam os vagalhões, Firme na Rocha que não se pode mover, firme e forte no amor do Salvador.
Comecei este sermão afirmando que a esperança é fundamental para nossa jornada para casa. Como assim? Paulo agradece a Deus pela igreja em Colossos porque ele ouviu sobre a fé deles em Cristo e sobre o amor deles pelos santos (Cl 1.4). Nesta oração de ações de graças, encontramos um teste seguro do crescimento espiritual. Não é conhecimento intelectual; o fato de conseguirmos solucionar complexos assuntos teológicos não significa que estejamos crescendo espiritualmente. Não são experiências excepcionais, dons fascinantes ou ministérios maravilhosos. O teste do crescimento espiritual é uma fé cheia de vida (cujo objeto é o Filho de Deus) e um amor cheio de vida (cujo objeto é o povo de Deus). Curiosamente, Paulo prossegue dizendo que os crentes de Colossos estão crescendo na fé e no amor “por causa da esperança que vos está preservada nos céus”(v. 5). Em outras palavras, “a esperança da glória”(v. 27) é o combustível que faz a fé e o amor deles brilharem. Como é que a esperança fortalece a fé? As circunstâncias difíceis podem enfraquecer nossa fé; ficamos desanimados pela condição deste mundo, pelo pecado em nosso coração, pelos problemas com que nos deparamos e pelas perdas que sofremos. Mas nossa esperança encontra-se estabelecida naquilo que ainda está para vir: o retorno de Cristo, a ressurreição dos mortos, e a renovação de todo o cosmos. Nossa esperança torna essa certeza futura numa realidade presente, por meio disso incentivando nossa fé em Cristo. Como é que a esperança fortalece o amor? Os relacionamentos difíceis podem enfraquecer nosso amor; ficamos desanimados pela maneira como as pessoas nos tratam e pela tensão que caracteriza boa parte dos nossos relacionamentos. Mas nossa esperança encontra-se estabelecida naquilo que ainda está para vir: o dia quando todo o povo de Deus ficará livre do pecado, quando seremos libertos do conflito e da rivalidade, e quando o amor reinará soberano. Nossa esperança torna essa certeza futura numa realidade presente, por meio disso incentivando nosso amor pelos outros. Transbordamos de fé e amor à medida que vivemos na firme expectativa de que Deus cumprirá todas as suas promessas.
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