O Evangelho da Eleição - Ef 1.3-14

Introdução

A Bíblia ensina que antes da criação, Deus elegeu as pessoas que seriam salvas (Rm 8.29,30). Ele fez isso no exercício de sua soberania, para que a bênção da salvação não se fundamentasse no mérito do homem.

Considerando o ensino bíblico do pecado (Ef 2.1), a única esperança de êxito na evangelização é a doutrina da eleição divina. E esta foi a doutrina que motivou a igreja primitiva a evangelizar com total empenho e dedicação (At 1.2,24), a eleição para o serviço (At 9.15;13.1-3), a eleição para a salvação (At 13.48). Tal eleição é ilustrada várias vezes quando Deus é apresentado como Aquele que produz a conversão (At 11.18; 16.14).  Pedro também ensinou a doutrina da eleição (At 11.18; 1 Pe 1.1,2; 2.9,10; 2 Pe 1.10). Veja o que Paulo, o grande missionário e plantador de igrejas, disse em 2 Timoteo 2.10. Examinaremos hoje o trecho escrito por Paulo em Efésios 1.3-14.  

1. DEUS PAI É O AUTOR DA ELEIÇÃO (Ef 1.3-6)

Deus é o autor da nossa salvação. E a doutrina da salvação fundamenta-se na doutrina da eleição. Observe a sequência do pensamento do apóstolo:

1.1.   Deus que nos abençoa (v.3)

 A eleição não é uma maldição, mas uma bênção de Deus. Não é uma doutrina do diabo, mas de Deus. A eleição é uma benção espiritual, que veio do céu para os crentes que se acham na terra (Cl 3.1).

1.2. Deus que nos escolheu (v.4)

 Há cinco lições neste verso:

1.2.1 – O conceito de eleição

Escolheu (grego εκλεγομαι eklegomai) significa que Deus escolheu tendo em vista o seu próprio interesse. Deus nos escolheu para si (Jo 15.16; At 9.15;13.48; 2 Ts 2.13).

1.2.2 – O tempo da eleição

Antes da fundação do mundo. Antes da criação, ou desde a eternidade (Jr 1.4; Rm 9.10-13).

1.2.3 – O Objeto da Eleição

Nos escolheu, isto é, os santos e fiéis (Ef 1.1), os crentes em Jesus. Significa, que não fomos nós que escolhemos ser cristãos, mas Ele nos escolheu.

1.2.4 – O propósito da Eleição

Para sermos santos e irrepreensíveis perante ele. Observe que Deus não nos escolheu porque éramos ou seríamos, mas para sermos santos e irrepreensíveis perante Deus. A doutrina da eleição produz a salvação, a santificação e a glorificação do povo escolhido.

1.2.5 – O segredo da Eleição

Não sabemos quem são os eleitos e quantos são os escolhidos. Somente Deus sabe e cada nome está escrito no livro da vida (Fp 4.3; Ap 3.5; 20.15). Pelos nomes que estão neste livro que Cristo derramou o seu sangue (Ap 5.1-14).

1.3 Deus nos predestinou (v.5)

A palavra predestinou (προορίζω proorizō) é sinônimo da palavra eleição. Deus nos escolheu para si e nos predestinou para fazermos parte da sua família, para sermos os seus filhos (Jo 1.12; Rm 8.15; Gl 4.6,7).

O amor de Deus é a motivação da predestinação. Deus nos escolheu para sermos dEle por causa do seu amor (Jo 3.16).

1.4 Deus que derramou a sua graça sobre nós (v.6,8)

Os escolhidos e os predestinados por Deus recebem de forma imerecida e incondicional, a graça salvadora (At 13.48; At 15.11; Ef 2.8,9). Paulo repete:

“no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência” (Ef 1.7,8).

1.5 Deus fez tudo de acordo com os seus planos (v.11)

Deus governa o mundo e a história de acordo com os seus planos e projetos. Somos o povo de Deus pela vontade de Deus, não pela nossa escolha (Jo 6.39,44; 10.26-30; 17.2,9).

JESUS EXECUTA A SALVAÇÃO DOS ELEITOS (Ef 1.7-12)

Jesus é quem executou na cruz a nossa salvação. É nEle ou em Jesus que temos acesso às seguintes bençãos:  

2.1. Em Jesus temos a adoção de filhos (v.5)

A eleição tem como objetivo a adoção. Tornamo-nos filhos no ato da nossa conversão (Jo 1.12). Podemos chamar Deus de (Abba = papai), recebemos o Espírito de adoção (Gl 4.6), participamos da natureza de Deus (2 Pe 1.4) e seremos semelhantes ao Senhor (1 Jo 3.1-3) Em Jesus, portanto, somos adotados como filhos de Deus (Rm 8.12-17; Gl 4.5).

2.2 Em Jesus temos a redenção (v.7)

A palavra redenção (απολυτρωσις apolutrosis) significa resgate de um prisioneiro de guerra ou um escravo. Este resgate é feito mediante o pagamento de um preço. Jesus Cristo redimiu os seus escolhidos mediante o seu sacrifício na cruz (Mt 20.28; Mc 10.45; Rm 3.24; Cl 1.14).

Jesus, o Bom Pastor que deu sua vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11-18). Ele libertou suas ovelhas da culpa, do castigo, do poder do pecado (Jo 8.34; Gl 3.13) e da escravidão do diabo (Hb 2.14-18). Jesus nos deu a verdadeira liberdade (Jo 8.36; Gl 5.1).

2.3 Em Jesus recebemos o perdão ou a remissão dos pecados (v.7)

A redenção não seria completa sem a remissão dos pecados. A ideia aqui é que o pecado foi perdoado e removido ou enviado para longe (Sl 103.12; Is 44.22; 1 Jo 1.9). Em Cristo, todos os pecados foram perdoados e esquecidos por Deus (Mq 7.19).

2.4 Em Jesus tudo será unificado(v.9,10).

Os planos de Deus têm começo, meio e fim. E o fim do plano de salvação é que todas as coisas que foram criadas sejam finalmente unidas sob o senhorio e a soberania de Cristo (Rm 8.18-25; Cl 1.16,17).

O ESPIRÍTO SANTO APLICA A SALVAÇÃO DOS ELEITOS (Ef 1.13,14)

Deus escolheu, Jesus redimiu e o Espírito Santo é quem aplica a salvação. Ele regenera e produz o novo nascimento no coração do eleito redimido (Jo 3.5-8).

3.1. O Espírito Santo sela a nossa conversão (v.13)

A fé é um presente de Deus e nasce pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17; Ef 2.8). No ato da conversão pela fé em Cristo, o cristão é selado pelo Espírito Santo (v.13). Um selo, nos tempos antigos era usado para:

(1)  Garantir a autenticidade de um documento ou de uma pessoa (Et 3.12; 1 Co 9.2);

(2)  Marcar uma propriedade protegendo-a contra violação e dano (Ct 8.6; Mt 27.66). O selo do Espírito Santo, portanto, simboliza autenticidade, propriedade e inviolabilidade do crente.  

3.2. O Espírito Santo garante a nossa redenção (v.14)

A palavra penhor ( αρραβων arrhabon ) significa penhor primeiro pagamento como garantia de que a soma total será paga mais tarde. A Palavra de Deus tem muito a dizer sobre herança. Nós herdamos a Deus que é a nossa herança (Sl 16.5; Rm 8.17), herdamos a Cristo (Cl 1.27), herdamos o Espírito ( Ef 1.14), herdamos a salvação (1 Pe 1.5) e herdamos o reino dos céus (Mt 25.34). E há bênçãos inimagináveis que herdaremos (1Co 2.9; 1 Jo 3.2).

A presença do Espírito Santo no crente é a garantia ou penhor (v. 14) da redenção completa que Deus concretizará em nós (2Co 1.21,22;5.5). Este resgate de dá em três momentos:

1)  Passado – Fomos remidos em Jesus Cristo (Ef 1.7).

2) Presente – Estamos sendo transformados de glória em glória (2 Co 3.18);

3) Futuro – Seremos semelhantes a Jesus e o veremos como Ele é, na Segunda Vinda (1 Jo 3.1—3).   

Conclusão

Warren Wiersbe comentando este trecho fala das grandes riquezas espirituais que temos em Cristo Jesus. Deus, o Pai nos escolheu, nos adotou e nos aceitou. Deus, o Filho nos remiu, nos perdoou, nos revelou a vontade de Deus e nos fez herança. Deus, o Espírito Santo nos selou e nos penhorou. Nossas riquezas, portanto, vem do Deus Trino e Uno, são concedidas pela graça de Deus e para sua glória e essas riquezas são apenas o começo!